São Paulo (AUN - USP) -A ausência de uma proteína junto com a alta expressão de outras duas pode aumentar em 36 vezes a chance de engravidar. Essa é uma conclusão da pesquisa realizada pelo médico Paulo Serafini, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). A descoberta pode ajudar mais mulheres a ter seus óvulos fecundados por fertilização in vitro, gratuitamente, no próprio HC.
A pesquisa centrou-se no estudo do útero da mulher, buscando melhorar as chances de engravidar. Segundo o professor, a infertilidade causada pela ausência de espermatozóides ou deficiência de óvulos já teve avanços significativos, com a fertilização assistida. Entretanto, a receptividade do útero é a causa de muitas mulheres não conseguirem engravidar depois de uma fertilização in vitro. O objetivo era buscar o fator que impede os embriões de se fixarem no útero. A maneira mais viável encontrada foi estudar proteínas - que são codificadas pelos genes. Isto porque o estudo do material genético diretamente tem preços pouco acessíveis no Brasil. As proteínas selecionadas foram algumas que já se supunha poder ter algum efeito sobre a gestação, mas com comprovações científicas inexistentes ou falhas.
Foram realizadas biópsias em 52 pacientes, analisadas na fase lútea (pós-ovulatória). As mulheres receberam embriões fertilizados in vitro. A proteína LIF (do inglês, fator de inibição da leucemia, pois tem atuação também sobre essa doença) mostrou-se em alta concentração no período pós-ovulatório intermediário, que é o mais propício à gravidez. Foi provada uma chance seis vezes maior de gravidez quando o LIF estava superexpresso. Outra proteína que provou efeito positivo foi o receptor de progesterona.
Mas os resultados da pesquisa foram ainda melhores. A claudina-4 aumentava também no período lúteo intermediário. No entanto, a incidência de gravidez baixava nestes casos. A claudina-4 influencia no equilíbrio iônico, e ela provavelmente causa uma modificação de troca iônica que dificulta a penetração do zigoto no útero. Com a claudina baixa, aumentam em 36 vezes a chance de gravidez.
Paulo Serafini ressaltou a importância dos estudos para ajudar principalmente mulheres que não têm como pagar o tratamento. O HC é o único da América do Sul que faz a fertilização artificial sem nenhum custo para a mulher. Entretanto, cada uma só tem direito ao tratamento para engravidar três vezes. O custo é de cerca de R$ 15 mil. Os gastos do Estado são altos e o resultado não é garantido. O problema aumenta porque as mulheres mais velhas são as que mais procuram o tratamento e nelas a chance de engravidar é menor. O ginecologista disse que isso só se muda em longo prazo, com educação. Mesmo assim, não se pode garantir que as mulheres procurem a inseminação artificial somente quando estão mais novas. "A educação não sobrepuja o amor", acrescentou.
O estudo das proteínas que influenciam na gravidez aumenta a chance de que as mulheres consigam engravidar na primeira vez. Assim, mais mulheres poderão fazer o tratamento gratuitamente, no HC. Serafini é coordenador do Departamento de Ginecologia do Instituto Central do HC. Ele considera essenciais em seu campo a metodologia, a intelectualidade e, sobretudo, a qualidade de atendimento médico. Sua idéia é otimizar o tratamento. É nesse sentido que suas pesquisas têm dado resultado.