ISSN 2359-5191

31/10/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 15 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Imprensa no Brasil ainda não está livre de censura, diz jornalista

São Paulo (AUN - USP) - O assunto era a restrição à liberdade de imprensa na ditadura, mas o jornalista Alberto Dines, que na época dirigia o Jornal do Brasil, acabou fazendo da imprensa atual o alvo de suas críticas. Na última segunda-feira (5/11), ele participou de um debate organizado pelo departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), cujo tema foi "Censura e crime político no regime militar".

Para Dines, as práticas censórias só mudaram de cor nos tempos de hoje: "O sistema de informação continua maculado, cheio de nódoas. Não há mais censura prévia, como havia na ditadura, mas hoje há um controle do poder de distribuição da informação, que cerceia o fluxo normal das notícias", disse ele. "A censura vai se sofisticando, pois o sistema vai se aprimorando", completou.

O debate foi o primeiro da série de cinco realizados entre 5 e 9 de novembro, no Centro Universitário Maria Antonia (antiga sede da Faculdade de Ciências Humanas da USP). O ciclo de seminários, entitulado "Práticas Repressivas e Crime Político no Regime Militar" contou com nomes importantes do meio acadêmico, jurídico e da imprensa, entre eles, o ex-Ministro da Justiça, José Carlos Dias e o criminalista Arnaldo Malheiros Filho.

O jornalista Alberto Dines, que já dirigiu os extintos Última Hora e Diário da Noite, além do JB, e hoje é editor do Observatório da Imprensa, disse ainda que a imprensa vive uma situação lamentável: o setor está concentrado demais, as empresas estão endividadas e os grandes grupos agem mimeticamente. "Há hoje no Brasil três grandes revistas – Veja, Época e Isto É – e todas elas são iguais. E não é porque uma telefona para a outra para saber qual vai ser a capa da semana. É porque elas não sabem pensar diferente, não conseguem inovar", afirmou ele.

Ao ser perguntado sobre quais assuntos são considerados tabus hoje em dia e, portanto, são ignorados pela mídia, Dines não hesitou em responder que ele próprio era um bom exemplo disso. "Estou na lista negra dos jornais. Tenho escrito e dirigido uma série de obras que têm tido veiculações irrisórias na imprensa. Há pessoas que são críticas e por isso são cortadas", argumentou.

Censura nos Estados Unidos
A mídia norte-americana também foi duramente criticada por Alberto Dines no debate. Para ele, os grandes conglomerados da mídia agiram muito mal quando acataram o "pedido" do presidente George W. Bush de não divulgar imagens de Osama Bin Laden. "É comum o governo fazer papel sujo e pedir a censura. Mas os grupos de TVs acatarem, aí há uma distância monstruosa. A censura foi aceita por redes que têm tanto poder que não precisam temer nem o presidente, nem o Pentágono, nem ninguém", afirmou.

Além de Dines, participaram da discussão o criminalista Arnaldo Malheiros Filho (que falou sobre contestações judiciais da censura na época da ditadura) e Maria Aparecida Aquino, professora do departamento de História da Universidade de São Paulo, que desmistificou alguns aspectos da censura à imprensa.

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