ISSN 2359-5191

29/04/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 27 - Saúde - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Pesquisa mostra que doenças em grávidas podem causar transtornos psiquiátricos no bebê

São Paulo (AUN - USP) - Uma gripe contraída por uma mãe durante a gestação pode vir a gerar problemas psiquiátricos no bebê. Parece estranho a primeira vista, mas pode ocorrer, segundo mostram pesquisas do grupo de Neuroimunomodulação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ). Coordenado pelo professor João Palermo Neto, o grupo trabalha para entender a influência de doenças contraídas no período pré-natal no desenvolvimento de doenças psiquiátricas na prole. Segundo a professora Maria Martha Bernardi do Laboratório de Farmacologia e Toxicologia Aplicadas, do Departamento de Patologia da FMVZ e integrante da equipe, os primeiros trabalhos científicos que apontavam essa relação são relativamente recentes na literatura especializada. As primeiras observações nesse sentido teriam sido tomadas nos EUA em 1965: “Após um surto de rubéola nos EUA, notou-se que houve aumento na incidência de autismo nas de mães que contraíram a doença, doença esta facilmente reconhecíveis logo no início da infância.”, afirma a pesquisadora. Posteriormente esse paralelo também foi traçado em outras observações, com diferentes patologias, como a depressão, esquizofrenia e doença de Parkinson.

Por serem tão recentes as pesquisas realizadas sobre o tema, ainda não se estabeleceu uma relação clara entre o tipo de doença que a mãe contrai e as patologias apresentadas pela prole. O que se sabe sobre todos os casos é do papel fundamental da liberação de citocinas pelo sistema imunológico da mãe no desenvolvimento das doenças psiquiátricas nos filhotes. As citocinas são substâncias que funcionam como mediadoras do sistema imunológico, sendo liberadas sempre que o organismo sente-se ameaçado por algum tipo de infecção (como o da gripe ou da rubéola, ou mesmo uma simples infecção alimentar). Quando uma grávida adoece no período pré-natal, as citocinas são liberadas para o organismo do filho através da placenta, podendo causar alterações na transmissão nervosa, e alterações nas células gliais, que auxiliam no funcionamento dos neurônios. “Nosso foco principal no estudo dos efeitos de doenças pré-natais na prole é tentar entender como exatamente age a citocina no sistema nervoso dos filhos, e como essa interação os leva a desenvolveram as doenças psiquiátricas”, afirma Bernardi, que é orientadora de duas monografias de Mestrado sobre o tema.

Experimento

Da autoria de Thiago Berti Kirsten e Mariana Taricano, ambos com apoio financeiro da FAPESP, o trabalho utilizou um “modelo animal de pesquisa”, ou na linguagem comum, um rato de laboratório, como explica a professora “A doença foi induzida por frações de uma bactéria injetada na mãe, o que fez com que ela apresentasse sinais de enfermidade, como febre e anorexia”. A partir daí, os resultados foram sendo observados em busca de sinais de alterações psiquiátricas. O primeiro sinal percebido foi a redução das interações sociais na infância da prole da rata, o que se repetiu depois na idade adulta. Foi notada nesses ratos redução do nível de dopamina, substância que age no cérebro e está relacionada ao prazer sugerindo redução no número de células nervosas. Além disso, os filhotes desta prole não reconheceram sua mãe pelo olfato. Segundo Bernardi, tais sinais são indícios de que este poderia ser um modelo animal de autismo.

Para compreender como as citocinas agem no cérebro dos filhotes da prole, o experimento irá lançar mão de recursos como o estudo da vocalização de filhotes, alteração na plasticidade comportamental e analise da morfologia do cérebro além de estudos de biologia molecular. “Esse é o grande ‘X’ da questão, saber de que maneira o sistema nervoso é influenciado. São muitas as variantes, como a gravidade da doença contraída pela mãe e o período da gestação em que ela ocorre o que está relacionado ao desenvolvimento de diferentes áreas do cérebro, mas iremos estudar isso exaustivamente”, afirma a professora.

Apesar de se utilizar de um modelo animal, Bernardi afirma que os resultados muito provavelmente podem ser transportados para os seres humanos, guardadas as devidas proporções. Confiante nos possíveis resultados a pesquisadora conclui: “Não são muitos que estão estudando isso no momento, é um terreno novo,mas é um trabalho muito bonito”.

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