ISSN 2359-5191

06/05/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 30 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Exposição explora os critérios determinantes de raridade de uma obra
Mostra no IEB-USP conta com obras raras do instituto e da Biblioteca Mário de Andrade

São Paulo (AUN - USP) - “Obras raras em acervos públicos”, uma seleção de obras raras, que vão desde os anos 1500 até o século XX, está em exposição no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) desde o dia 10 de abril. Com o intuito de mostrar ao público os critérios que definem a raridade de uma obra, a exposição conta com material pertencente ao próprio instituto e à Biblioteca Mário de Andrade (BMA), inclusive com algumas obras roubadas desta em 2006 e só mais tarde recuperadas.

Estão expostos cerca de 40 livros do IEB, nacionais e internacionais, como A Dança das Horas, de Guilherme de Almeida (1919, adquirido de Yan de Almeida Prado), A Festa das Letras, de Cecília Meirelles (de 1937); Poesias, de Manuel Bandeira (de 1924, com dedicatória a Mário de Andrade); Belazarte, de Mário de Andrade (de 1934, com dedicatória a Yan de Almeida Prado) e Lês Chants de Maldoror, de Isidore Ducasse (de 1939, com ilustrações e assinatura de Salvador Dalí).

Da BMA, estão expostas 17 obras, a maioria recuperada e restaurada após o furto. Entre elas, destacam-se As Primaveras, de Casimiro de Abreu (1859), O Homem e a Morte: tragédia em três atos, de Menotti Del Picchia (de 1922, 1ª edição, com capa original de Anita Malfatti), Memórias Posthumas de Braz Cubas, de Machado de Assis (1ª edição, de 1881) e a segunda edição de O Guarany, de José de Alencar (1863), vendida por R$ 5.750 em um leilão e depois readquirida.

Há ainda uma série de gravuras de artistas como Di Cavalcanti (Mulher em pé e “projeto de capa para primeira edição de Paulicéia Desvairada”), Fernando Léger (Composição) e Goeldi (gravuras em madeira de 1930). Há ainda livros de gravuras que extrapolam os limites artísticos e são verdadeiros documentos que ilustram e contam a história do Brasil, como Voyage pitoresque et historique au Brésil, de Debret (feitas entre 1834 e 1839, são tão ricas em detalhes que equivalem a fotografias da época) e gravuras de Francis Castelnau em viagens ao Brasil e ao Peru.

O objetivo da exposição é mostrar quais são os critérios que definem a raridade de uma obra. Segundo o curador da exposição, Rizio Bruno Sant’Ana, o senso comum diz que livro raro é aquele difícil de ser encontrado, precioso. Contudo, entre especialistas, o livro raro é tido como um documento verdadeiro do desenvolvimento cultural e social da humanidade. Esse valor pode se dar pela pelas poucas edições existentes, por marcas particulares (assinaturas, dedicatórias, obras redigidas a próprio punho), por uma encadernação mais elaborada, por ter sido censurada, dentre outros critérios.

Um bom exemplo é um pergaminho de Américo Vespúccio. Com apenas quatro exemplares e datado de 1505, ele conta sobre a viagem do autor ao Brasil. Em latim, o exemplar exposto foi enviado a Lorenzo de Médici. Enfim, raro por sua exclusividade, por sua espantosa idade e por sua relação com a história do século XVI, marcado pelas Grandes Navegações.

A obra precisa despertar interesse para ser rara, não necessariamente precisa ser velha. Cada biblioteca deve ter uma política própria que defina a raridade das obras para organizar seu acervo, mas o consenso é que ela deve ter procura.

Na exposição, há obras raras, dentre outros critérios, por sua encadernação elaborada e preciosa (Crisálidas, de Machado de Assis, 1864) e exclusividade, como anuários de liturgia da Igreja Católica (o IEB possui os anuários de 1765 a 1767, 70, 84 a 86, 88, 1811 e 1822) e Manual do Fazendeiro, de Jean Baptiste Albab Imbert, de 1834, sobre medicina popular.

A frase presente na exposição, “Cada livro é, em si, um universo único”, resume como um livro pode agregar tanto valor e extrapolar seus limites físicos. Cada obra tem uma história descrita em suas páginas, uma história que vai sendo completada conforme sobrevive ao tempo. Seja uma assinatura, seja o que seu conhecimento representa para aquele momento histórico, a obra é um objeto onde a cultura e a história se inscrevem. Logo, tal livro não é apenas mais um exemplar dentre dezenas, centenas ou milhares, mas é “o exemplar”, algo único.

O melhor exemplo são os dois exemplares expostos de Les fleurs du mal (As Flores do Mal), do poeta francês Charles Baudelaire, pertencentes à BMA. A obra, que causou escândalo e revolta por parte da sociedade conservadora da época, foi censurada, tendo alguns poemas proibidos. Ambos os exemplares são de primeira edição, de uma tiragem de 1300 cópias. Dentre estes, 200 foram mutilados, com as páginas cortadas. Um dos exemplares, não-mutilado, pertenceu ao juiz do caso, o Sr. Nacquart. O outro, pertencente ao próprio Baudelaire, é um dos 200 livros com páginas a menos. É o ponto alto da visita, onde se entende ao máximo o que é “um livro como um universo único”.

OBRAS RARAS EM ACERVOS PÚBLICOS
Quando:
de segunda a sexta, das 9 às 18 horas; sábado, das 10 às 16 horas; até 29 de junho.
Onde: Instituto de Estudos Brasileiros (av. Prof. Mello Moraes, tr. 8, nº 140, Cidade Universitária, tel. 0/xx/11/3091-2399)
Quanto: entrada franca

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