São Paulo (AUN - USP) - Após receber qualquer tipo de tratamento oncológico, o paciente sempre necessitará de cuidados odontológicos especiais. Principalmente após a radioterapia na cabeça e no pescoço e o transplante de medula óssea a profilaxia dentária e as visitas ao cirurgião-dentista devem ser intensificadas.
Segundo dados do Hospital Albert Einstein, “A radioterapia causa danos permanentes aos tecidos ósseos da cavidade oral e às glândulas salivares, que deverão ser considerados ao se realizar o tratamento odontológico pós-tratamento oncológico. Uma vez terminado o tratamento radioterápico e cessadas as complicações agudas, um planejamento para o acompanhamento odontológico é programado, de acordo com cada paciente”.
Há essa maior preocupação com a profilaxia dentária após algum tratamento onco-lógico, pois por um longo período após o término do tratamento - com imunidade baixa e, dessa forma, podem desenvolver infecções fúngicas, virais, bacterianas, cáries, problemas periodontais e especialmente para os casos de transplante de medula óssea halogênios (quando o paciente recebe a medula óssea de outra pes-soa), a Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro, DECH.
A DCEH é a maior causa de morbidade em pacientes submetidos ao transplante de medula óssea. Paulo Sérgio da Silva Santos, mestre em Patologia Bucal pela Facul-dade de Odontologia da Universidade de São Paulo, FOUSP, Roberto Brasil Lima, mestrando em Ciências de Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Marina Helena Cury Gallottini de Magalhães, professora responsável pela disciplina de Patologia Bucal pela FOUSP, descrevem em seu estudo os cuidados com as complicações orais. Sugerem que “para a redução da morbidade, a avaliação estomatológica e o tratamento de todas as fontes de infecção bucal em potencial, devem se tornar padrão de cuidados para esses pacientes”.
Trata-se de uma complicação que ocorre pela ativação de células T – pertencem a um grupo de células brancas do sangue e tem atuação sobre a imunidade mediada por célula - em resposta a moléculas do complexo de genes de histocompatibilidade principal (MHC) halogênio subseqüente a um transplante de medula óssea histo-compatível, ou seja, as células T doadas reconhecem os antígenos do hospedeiro como estranhas atacando-o. As células da medula nova atacam algum órgão do corpo do paciente, é o contrário da rejeição que é quando o corpo do paciente ataca o órgão transplantado.
“Embora a DECH possa ser prevenida pela remoção dos linfócitos T da medula do doador, essa manobra acarreta o risco de falência do enxerto e recidiva da doença original, não sendo, por essa razão, muito utilizada”, afirmam os três pesquisadores. “Clinicamente, a DECH de mucosa oral pode ser subdividida em leve, moderada ou severa. Na mucosa bucal, ocorrem alterações semelhantes a líquenplano como leucoedema, estrias brancas, ulcerações dolorosas, além de ardência bucal, xerostomia, mucocele e microstomia. Nos lábios, a DECH caracteriza-se por man-chas maculopapulares e nos casos mais severos, lesões bolhosas devido à necrose da epiderme”.
Embora a DECH seja um sinal de sucesso do enxerto, sua progressão e seu agra-vamento podem ser prejudiciais ao paciente. Devido à imunossupressão a que os pacientes de Transplante de Médula Óssea, TMO, são submetidos, cuidados de su-porte devem ser utilizados para atenuar ou prevenir a DECH. “Antibioticoprofilaxia, injeção intravenosa de imunoglobulinas (se o paciente estiver hipogamaglobulinê-mico) e suporte nutricional são alguns deles. Toma importância significativa o cui-dado com a higiene oral na prevenção das ulcerações da mucosa oral e cáries que possam se tornar focos de infecção e alterar o curso da DECH”, segundo eles.
Tratamentos odontológicos eletivos devem ser postergados e procedimentos emer-genciais que induzam bacteremia devem ser acompanhados de terapia antibiótica. Os três pesquisadores ainda afirmam que “O diagnóstico laboratorial por meio de biópsia de mucosa oral e glândula salivar menor é realizado de acordo com o proto-colo de cada equipe médica e de acordo com o período pós-TMO”.
Quando a DECH se limita à mucosa oral, não se realiza tratamento sistêmico, apenas cuidados locais e sintomáticos além da manutenção do paciente em observação. Geralmente, o cirurgião-dentista é o primeiro profissional da equipe a diagnosticar a DECH, o que ressalta a importância do acompanhamento odontológico por um profissional após qualquer tipo de tratamento oncológico.