ISSN 2359-5191

18/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 56 - Meio Ambiente - Escola Politécnica
Tudo é reciclável, porém, o custo-benefício disso nem sempre é bom

São Paulo (AUN - USP) - Na atual conjuntura ambiental temas como desenvolvimento sustentável, emissão de gases poluentes e reciclagem vêm sido debatidos constantemente. Foi pensando nisso que a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo decidiu realizar o Seminário de Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos. O evento realizado recentemente trouxe profissionais envolvidos na área para discutir o assunto a partir de diferentes prismas. Um desses foi trazido por Manuel Lucio Padreca, da Associação Brasileira das Indústrias Recicladoras de Papel (ABIRP), em sua palestra sobre as oportunidades e dificuldades do mercado das indústrias recicladoras de papel.

Segundo ele, há uma série de prós e contras a serem considerados no cálculo do custo-benefício da reciclagem de determinado material. Quando a matéria prima utilizada é virgem, seu aproveitamento é completo, o consumo de energia elétrica é menor, assim como o custo referente a taxas tributárias e o número de pessoas envolvidas no processo, a produção pode ser feita em larga escala e com uma velocidade produtiva superior. Ainda é possível conseguir incentivos como financiamentos de máquinas, que nesse processo apresentam maior vida útil. Já no processo industrial que envolve material reciclável há uma perda de até 40% da matéria-prima empregada e as complicações enfrentadas geralmente são tão numerosas que fazem com que a reciclagem se torne mercadologicamente desvantajosa.

A geração de resíduos aumentou rapidamente devido ao constante processo de urbanização e industrialização mundial. Essa produção faz multiplicar os problemas em relação ao crescimento de geração de resíduos per capita. Segundo Padreca, é necessário que haja uma mudança comportamental e nos hábitos consumistas somada a mudanças em fatores econômicos e sociais para que a modificação na composição dos resíduos. “O problema é que o brasileiro quer viver como europeu e consumir como americano”

Mesmo com todo o debate em torno de questões ambientais, ínfima parcela da população tem consciência do tempo necessário para a decomposição de materiais, por exemplo. Algo aparentemente inofensivo quanto uma goma de mascar, ou um filtro de cigarro levam cinco anos para se decomporem. Informações “supérfluas” como essas podem ter utilidade na conscientização da população.

Apesar da necessidade de redução do consumo de produtos que ofereçam ou se apresentem em embalagens dispensáveis poucas pessoas colocam isso em prática. É preciso que as indústrias e consumidores dêem preferência às embalagens econômicas, renováveis, recicladas, ou recicláveis. Segundo Padreca, é preciso que ocorra uma união entre designers, engenheiros de alimentos, engenheiros químicos, químicos e ambientalistas para a criação e desenvolvimento de ecoembalagens. Engenharia e tecnologia, unidas a educação ambiental e esforço legal são premissas para o avanço das ecoembalagens.

A normatização do processo de reciclagem ainda é algo por fazer. Não há definição exata para o que é de fato a reciclgem, o que deve ser classificado como rejeito, resto, ou o que é pós-consumo e pré-consumo.

A reciclagem pode ser classificada e separada em quatro diferentes tipos. A reciclagem primária seria o reprocessamento no qual os resíduos de fabricação voltam ao processo produtivo, fazendo do resíduo o mesmo produto que seria feito com a matéria-prima virgem. Reciclagem secundária seria a reciclagem propriamente dita, na qual os resíduos de determinados produtos e do pós-consumo servem para a composição de outros produtos. A reciclagem terciária seria o reaproveitamento, nela há uma utilização de resíduos como fonte de energia, ou seja, por meio da queima dos resíduos se obteria a energia neles contidas. Por fim a reciclagem quaternária seria a decomposição dos resíduos em aterros na qual a reciclagem do produto seja realizada por meio de sua degeneração feita pela própria natureza.

Alguns problemas e possíveis soluções referentes à reciclagem também foram expostos como a necessidade da diminuição de impostos sobre os produtos reciclados e o incentivo para uma melhora na logística do processo. A coleta seletiva é cara devido, entre outros fatores, a grande burocratização envolvida no processo. Muitas vezes a compensação da reciclagem de alguns materiais se torna muito baixa. É devido a burocracias como essa que a ABIRP pretende a criação de fundos para desenvolvimento da reciclagem, com cobrança de impostos para os produtos não recicláveis.

O contra-senso na cobrança de impostos sobre o produto reciclado é grande. O produto pós consumo que já estava quase indo para o lixão paga a mesma carga tributária do que o material virgem, as vezes até mais. Além do pagamento feito à empresa coletora para que leve o lixo, paga-se novo imposto para a retirada desses produtos do lixo. As empresas sucateiras precisam possuir nota fiscal do produto ou poderão ter o material apreendido.

A reciclagem também pode ser vista como fonte geradora de negócios. A coleta seletiva permite geração de renda, de empregos (diretos e indiretos), minimização da geração de lixo, economia de fontes renováveis ou não de energia e de matéria prima e insumos vindo da natureza além da possibilidade de resgate e re-inserção social. Mesmo assim ainda desperdiçamos 12.145.360 t/ano de papéis e papelões, afirma Padreca.

Ainda hoje 36,1% do lixo diário produzido são direcionados a aterros sanitários. “Há muita gente que não quer que a reciclagem funcione bem porque a geração de lixo, o aterro, é uma fonte inesgotável de renda” explica Padreca.

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