ISSN 2359-5191

18/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 74 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Paradigmas da juventude atual

São Paulo (AUN - USP) - O ano de 1968 marcou um conceito de juventude e um modo de se fazer política, estigmatizando as gerações seguintes e impondo-lhes barreiras na superação de modelos estabelecidos. O assunto foi debatido pelas sociólogas Regina Magalhães de Souza e Helena Abramo, em evento promovido pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP). As estudiosas destacaram as mudanças ocorridas no fazer político juvenil nesses 40 anos, os rumos tomados pelos novos movimentos e as mudanças no próprio conceito de juventude.

Os movimentos de 1968 se tornaram modelo de atuação entre os jovens; de lá para cá a juventude sofreu radicais transformações em seus conceitos e paradigmas, chegando até mesmo a negar-se como laço de união entre semelhantes. Durante os anos seguintes, havia uma procura muito grande por atores sociais dentro da juventude: pessoas capazes de modificar seu entorno em benefício próprio e daqueles ao seu redor, e muitos questionavam se os jovens poderiam mesmo assumir este papel na sociedade.

Helena afirma que, desde os anos 1950, as revoltas juvenis só assumem caráter relevante quando suas questões são também as que inquietam a sociedade como um todo. O jovem, para conseguir realizar um papel eficaz como ator político e social, precisa sentir que influi nas decisões que afetam sua vida coletiva, exercendo assim sua cidadania. A sociedade compõe-se nesta negociação entre atores sociais que defendem seus interesses, em disputas que envolvem brigas e racionalidade.

Regina acredita que a atividade política atualmente tem sido presidida pela lógica de mercado. O movimento estudantil se tornou um mito e isso o cristaliza: para que tenham futuro, os novos movimentos ou negam este modelo estabelecido por 1968 ou mantém-se presos a ele, estagnando-se. Este mito coloca o fardo da reinvenção da política sobre a juventude, pedindo que esta não aceite as formas políticas que o discurso do poder lhe impõe.

Helena completa acrescentando que os partidos de esquerda estão presos aos mitos criados por 1968. Existem projetos em disputa no interior dos movimentos de atuação política juvenil: existem organizações tradicionais (como o MST ou a CUT) que têm coletivos juvenis e outras que buscam por novas formas de atuação política, como os movimentos culturais surgidos na periferia.

As pesquisadoras apontam que 1968 significou uma contestação do poder instituído e uma transgressão de padrões e limites estabelecidos. Hoje, as disputas dentro dos padrões estabelecidos funcionam de um modo diferente: a luta dos jovens foca-se, quase sempre, na questão da inserção social, uma vez que as liberdades já foram conseguidas pelas gerações passadas. A força simbólica de 1968 produziu grande impacto sobre os anos seguintes e ainda atua como importante referente na atuação política contemporânea.

Helena afirma que o modo de fazer política entre os jovens de hoje mudou e mudaram também as questões abordadas. “Antes o jovem era aquele que podia adiar sua entrada no mercado de trabalho e suas funções de constituir família, a classe média alta”. Agora, nem a sexualidade nem o trabalho são mais adiados, as liberdades sexuais e as pressões por estágios e experiências profissionais levaram a uma mudança no conceito de juventude. Hoje, o jovem é de todas as classes, tanto o trabalhador pobre quanto o rico ou estudante.

Ambas as sociólogas tem a percepção de que “não é fácil ser jovem hoje” e a atuação dos movimentos juvenis mais eficientes se dá na periferia, é cultural e esta voltada para o drama da inserção social. Existem alguns grupos que se esgotam, mas a maioria deles tem dimensão de transformação política.

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