ISSN 2359-5191

31/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 83 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Plantas da seca não são sofredoras, diz professora da USP

São Paulo (AUN - USP) - Sol, seca, solo rachado e gado morrendo de fome. São essas as imagens de sofrimento que se evocam quando se fala sobre climas áridos, como o nordeste brasileiro. O que poucos sabem, porém, é que, longe de estarem sofrendo as intempéries da seca, as plantas ao longo do tempo se adaptaram ao lugar. Para elas, qualquer mudança naquele ambiente pode significar a morte.

Segundo a professora Gladys de Pina, do Instituto de Biociências da USP, há certo misticismo de se achar que as plantas sempre precisam de água e que na seca elas estão sofrendo. “Pelo contrário, existem florestas na caatinga; os vegetais estão acostumados a viver naquele ambiente. As pessoas sofrem, as plantas não”, ela diz.

As chamadas plantas xerófitas, típicas de clima árido, elaboraram estratégias para fugir das adversidades, como mudanças anatômicas e ciclos de vida menores. “Se nós fossemos para o polo norte nosso organismo sofreria no começo, mas depois se adaptaria. Com as plantas é a mesma coisa”. Segundo ela, uma coisa que parece morta pode ser uma planta viva, dispersando sua semente.

Entre as plantas que se adaptaram ao clima , existem aquelas que escapam da seca, as que a evitam e as que toleram. As que escapam do período de estiagem realizam todo o seu ciclo reprodutor antes de acabar o período úmido. Segundo a professora, essas plantas, que não existem no Brasil, germinam em qualquer chuva que cai e, antes do término do período chuvoso, já lançam suas sementes no ambiente. Já aquelas que evitam a seca promovem adaptações em suas folhas, reduzindo-as, para não perderem água.

Já as mais avançadas são as plantas que, mesmo com o tempo seco, conseguem manter a normalidade de seu ciclo reprodutivo. O modo como elas conseguiram se adaptar a esse ambiente foi criando reservatórios de armazenamento. “As células dessas plantas são especializadas no acúmulo de água. Se acabar essa reserva elas morrem”, diz a professora. Entre essas plantas estão as cactáceas e outras plantas xerófitas suculentas.

Assim como qualquer outra, as plantas xerófitas também possuem flores e polinizadores. “Se você for ao sul da África na época da floração você vê aquele tapete de flores coloridas.”, diz. Tal estranheza com que se olha para esses vegetais não é um aspecto reservado aos leigos no assunto. A comunidade científica no Brasil também não parece se interessar. “Muito pouco se conhece no Brasil sobre as xerófitas, embora tenha três biomas com representantes brasileiros. Infelizmente, a maioria do que se conhece está na África e na América do Norte”, reclama a professora.

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