ISSN 2359-5191

01/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 135 - Ciência e Tecnologia - Escola Politécnica
Pesquisa aperfeiçoa sistema de climatização de veículos

São Paulo (AUN - USP) -Para motoristas e passageiros, andar em carros abafados em dias quentes é, no mínimo, desconfortável, principalmente se a falta de ventilação vier acompanhada de trânsito, comum em grandes cidades. Foi pensando em aperfeiçoar as condições de circulação de ar dentro dos veículos que o engenheiro Marcelo Moura desenvolveu uma pesquisa, em sua dissertação de mestrado defendida na Escola Politécnica da USP (EP-USP), a respeito do que pode ser feito para melhorar o conforto térmico no interior dos carros. "A idéia era melhorar a performance de climatização interna do veículo", conta.

O trabalho envolveu modificações em alguns componentes do carro testado. O compressor, por exemplo, foi uma das peças que sofreram alterações – o componente, que antes utilizava pistões fixos passou a ter pistões variáveis. Com a mudança do tipo de pistão, peça responsável por fornecer pressão para o gás refrigerante circular pelo sistema, criou-se a possibilidade do sistema auto-regular a refrigeração, por porcentagens. "O pistão fixo tem simplesmente uma capacidade", explica Moura. Com isso, um pistão que trabalhe com determinada capacidade continuará com essa performance mesmo se a cabine do carro já estiver bem refrigerada. "Ele continua refrigerando o máximo que pode", diz.

Já com o pistão variável, há um reconhecimento das condições internas da cabine e uma adequação a elas. "Se o sistema interior não está necessitando de 100%, ele começa a trabalhar com 60%, 50%", afirma. Com isso, há redução inclusive do consumo de combustível, já que o compressor tem um grande peso nessa conta. A troca de pistões foi responsável por reduzir, em média, 5% do combustível utilizado. "Se considerar que o veículo tem capacidade de fazer 300 km com álcool, conseguimos aumentar 20 km", afirma. Embora o número seja baixo, Moura acredita que essa diminuição seja "algo considerável".

Outra melhoria foi a troca de válvula de expansão, que controla a quantidade de gás que entra no evaporador e reconhece o que sai dele. O tubo de orifício utilizado anteriormente foi substituído pela válvula do tipo TXT, que regula a quantidade de passagem de gás por conta própria. Segundo Moura, a TXT é uma válvula mais sensível, capaz de identificar a condição dessa saída do gás. Com isso, ela pode aumentar o fluxo de gás ou reduzir. "Ela consegue ajustar o sistema às condições em que se encontra naquele momento", explica.

Em paralelo, houve modificações no condensador, equipamento responsável por refrigerar o ar quente que vem da cabine. "Quando há uma área maior [do condensador], há uma capacidade maior de refrigerar o ar" e também na caixa de ar, que apresentava muitos vazamentos de ar quente para a região fria. "Só com o isolamento, já obtive graus a menos dentro do veículo", comemora o engenheiro.

O projeto de climatização ainda não foi implantado, pois ainda há algumas análises a serem feitas. Segundo Moura, implantar demanda uma série de ensaios, nos quais são verificados a performance no sistema, a durabilidade e resistência dos componentes, entre outros fatores. O engenheiro acredita que o bolso do consumidor não sentirá essas melhorias. "Se colocar na ponta do lápis, é bem provável que, se ficar um pouco mais caro, não vai ser muita coisa", assegurou. Isso se deve, em grande parte, porque Moura procurou trabalhar com componentes nacionais, que sairiam mais em conta.

Moura dá dicas também para o próprio consumidor melhorar a circulação de ar. Ele aponta que os vidros têm uma parcela significativa no conforto térmico. "Um veículo com uma região envidraçada muito grande tem uma absorção de calor maior que um veículo mais fechado. O calor consegue entrar mas não consegue sair", processo similar ao que ocorre numa estufa. Outro ponto são os tecidos de banco e a cor do carro. "Isso influencia bastante", afirma. "Um veículo preto absorve muito mais calor que um veículo prata, por exemplo".

Faltam oportunidades
No entanto, o engenheiro, que na época da pesquisa também trabalhava no setor de desenvolvimento de projetos de áudio, lamenta a falta de investimento no setor de climatização. "Houve muito mais oportunidade de desenvolvimento de um novo rádio ou um rádio com uma nova tecnologia", afirma. Para ele, essas diferenças ocorrem porque as melhorias no sistema de áudio podem ser mecanismos para atrair o consumidor – as concessionárias podem utilizá-lo, por exemplo, como um chamariz, diferentemente do que ocorre com o sistema de circulação de ar.

"[Climatização] não é diferencial na hora de vender o veículo", explica. De acordo com Moura, isso afeta inclusive o potencial de desenvolvimento de inovações dentro das fábricas. "Só com reclamações do consumidor e com reclamações internar que conseguimos ter forças para fazer algum trabalho", revela. Ele cita que alguns autores defendem até que a climatização tenha influência na segurança. "Quando [o motorista] está ou com muito frio ou com muito calor, ele acaba perdendo um pouco de sua concentração", explica. "Não é só um opcional de luxo", finaliza.

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