ISSN 2359-5191

29/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 153 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Contracultura brasileira é analisada 40 anos depois

São Paulo (AUN - USP) -Há quarenta anos o mundo foi sacudido por uma onda de agitação política e social deflagradas principalmente pelos jovens, desencadeada pelos chamados eventos de maio de 1968, onde os estudantes franceses se revoltaram nas ruas de Paris. O ano de 1968 foi o auge de um período de profundas mudanças que ficou conhecido como contracultura. Surgido nos Estados Unidos, esse movimento que pretendia se libertar das amarras da sociedade capitalista tecnocrática provocou uma verdadeira revolução nos costumes e apresenta ecos até os dias de hoje. Em sua tese de doutorado apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o historiador Marcos Alexandre Capellari analisa os efeitos desta contracultura no Brasil, na época governado pelo regime militar.

Para analisar a contracultura nacional Capellari se utiliza dos textos publicados na coluna “Underground” do jornal alternativo O Pasquim pelo jornalista Luis Carlos Maciel, que se tornou o principal porta-voz dos conceitos contraculturais no Brasil. Em seus artigos Maciel mostrava para os leitores do periódico as mais recentes discussões políticas, filosóficas, sociológicas e psicológicas propostas pelos principais pensadores dessa nova forma de vida nos Estados Unidos e Europa.

“A contracultura surgiu nos EUA como uma resposta da juventude de classe média contra a pressão exercida pelo modelo tecnocrático no início da década de 1960. Ironicamente, o golpe de 1964 e a ditadura militar, ao impor este modelo tecnocrático e desenvolver a classe média urbana no Brasil, deu as bases para que essa revolta surgisse também aqui”, explica o historiador. Motivados pelas notícias das rebeliões em todo o mundo, os jovens brasileiros radicalizaram a luta contra o regime militar em 1968 com manifestações, passeatas, confrontos e a criação de grupos guerrilheiros. A reposta do governo foi a promulgação do Ato Institucional nº 5, que deu início ao período mais brutal da ditadura.

A partir de 1969, Maciel começa a publicar suas colunas no Pasquim, buscando trazer os conceitos mais recentes da contracultura norte-americana e européia para a realidade brasileira, mesclando-as com a cultura nacional-popular abordada pelo periódico. “Essa fusão dos elementos internacionais com a cultura brasileira era a proposta do movimento tropicalista, que foi a principal manifestação artística do período. Maciel se encaixa nesta dualidade”, afirma Capellari.

A coluna “Underground” foi publicada até 1972, driblando a censura do período mais ferrenho do regime militar, e foi responsável pela introdução dos conceitos contraculturais a um grande número de leitores. O pensamento hedonista, exemplificado pelo amor livre e uso de drogas psicodélicas pelos hippies, foi muito criticado por setores da esquerda “tradicional”, e era defendido por Maciel em suas colunas. Hoje, ler os textos do jornalista ainda é fundamental para entender este período tão importante e conturbado da história recente.

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