ISSN 2359-5191

27/04/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 08 - Educação - Hospital das Clínicas
Instituto de psiquiatria do HC discute diagnóstico e recuperação do Transtorno Bipolar

São Paulo (AUN - USP) - Uma pessoa extremamente feliz, mas que, em menos de cinco minutos, se torna irritada ou deprimida é a primeira imagem que surge quando se fala em transtorno bipolar de humor. Entretanto, esse não é o quadro mais comum e o paciente, se for diagnosticado cedo e aderir ao tratamento, pode levar uma vida praticamente normal. Esse foi o tema abordado por Frederico Navas Demétrio, médico psiquiatra do Hospital das Clínicas (HC), em palestra intitulada “Diagnóstico de Transtorno Bipolar: qual a importância para a prevenção de recaídas?”, promovida na última sexta-feira, 16, pelo GRUDA (Grupo de Estudos de Doenças Afetivas) no Instituto de Psiquiatria do HC.

A doença tem ótimas chances de retroceder se todos os cuidados necessários forem tomados. Segundo dados apresentados por Frederico Navas, após seis meses de tratamento depois da primeira fase de mania, 60% dos pacientes já estão aptos a trabalhar e 64%, a viverem sozinhos. Após quatro anos, os números saltam para 81% e 72%, respectivamente. O médico psiquiatra se mostra confiante quanto aos resultados e diz que é essencial uma mudança de paradigmas com relação ao transtorno bipolar: o foco precisa passar do tratamento agudo para a manutenção do tratamento, das crises para a doença em si, da recuperação sintomática para a recuperação funcional do paciente.

O transtorno bipolar tem como principal característica a instabilidade, que não é apenas de humor, mas também de sono e ritmos biológicos, de atenção e cognição, de iniciativa e impulsividade, de motricidade, entre outras. O paciente pode oscilar entre esses estados ou combiná-los podendo estar, por exemplo, com muita disposição física mesmo sem dormir, ou muito cansado mesmo após longas horas de sono. São as múltiplas instabilidades que caracterizam a doença. Os estados eufóricos, alegres, são chamados de manias e os apáticos, irritadiços são ditos depressivos. Além desses quadros, uma pessoa pode apresentar hipomanias, euforias mais leves que não chegam a comprometer a vida do paciente, ou estados mistos, nos quais períodos eufóricos e depressivos se alternam.

Para Frederico Navas, o objetivo do tratamento do transtorno bipolar é a estabilidade ao longo prazo e, com isso, a recuperação do funcionamento do indivíduo. “Tratar crises é apenas uma parte”, diz, porque se o paciente apenas tomar medicamentos em períodos de crise pode acelerar o aparecimento de novos episódios e se tornar um ciclador rápido (com quatro ou mais crises em um ano). “O transtorno bipolar é uma doença de ciclos. Quanto menos episódios o paciente tiver, menores são as chances de ter outro. Quanto mais, maiores as chances”, revela. Por isso o ideal é o uso de medicamentos “estabilizadores de humor”, que atuam diminuindo os dois pólos da doença – episódios maníacos e depressivos – ao mesmo tempo. Muitas vezes, esses remédios devem ser combinados a outros em períodos de crise, mas jamais substituídos.

Com o tratamento correto, a tendência é que os episódios fiquem cada vez mais leves e ocorram com menos freqüência. Contudo, sempre há o risco de novas crises e, por isso, o paciente deve continuar usando a medicação e se consultar sempre com seu médico para prevenir os “eventos-sinais”, isto é, alterações no corpo ou no comportamento – insônia, por exemplo – que possam indicar o início de um novo episódio. “A recaída geralmente começa com uma tentativa de depressão e a pior medida é utilizar um antidepressivo”, avisa Frederico Navas. Esse tipo de remédio pode facilitar a recaída e o seu uso contínuo, a emergência de formas resistentes ao tratamento. Nas mulheres, a gravidez e o pós-parto são fortes fatores desestabilizadores de humor, bem como as drogas de um modo geral.

Recuperação e psicoeducação
Aprender a aceitar a doença, o tratamento e a mudança no estilo de vida são as principais barreiras que o paciente enfrenta. Muitos negam o transtorno bipolar ou então sua natureza contínua e, em ambos os casos, a não-adesão perfeita ao tratamento retarda a recuperação. Além disso, a família também tem que se adaptar e entender. É um processo difícil para todos e é nesse ponto que entra em cena a psicoeducação: série de atividades realizadas para ajudar quem está nessa situação. Existem diversas associações ligadas ao tema, como a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e, no caso do Hospital das Clínicas, o GRUDA (Grupo de Estudos de Doenças Afetivas), que promove uma vez por mês palestras para pacientes, familiares e amigos dos portadores de transtorno bipolar.

Para mais informações sobre o GRUDA e suas atividades, acesse:
http://www.hcnet.usp.br/ipq/gruda/index.htm

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