São Paulo (AUN - USP) - Em 2010, o Paço das Artes completa quarenta anos de existência. Desde sua fundação, em 1970, constituiu-se como um espaço dedicado à experimentação, incentivando projetos inovadores nos campos das artes e da curadoria. Dentro desta proposta, o Paço inaugura a sétima edição de sua Temporada de Projetos, iniciativa que procura “abrir espaço à produção, fomento e reflexão da prática artística emergente”, segundo as diretoras do Paço, Daniela Bousso e Priscila Arantes. O evento de abertura incluiu também o lançamento do catálogo que reúne, pela primeira vez, trabalhos da edição passada do programa.

A Temporada de Projetos lançou seu primeiro edital em 1999. Durante seus mais de dez anos de existência, o programa já recebeu cerca de 3.500 portfólios e realizou 50 exposições, abrindo espaço para mais de 180 artistas e 15 curadores e críticos.

O ano de 2009 foi marcante para o projeto, que passou a ser anual e não mais bienal. Foi também a primeira edição a ter suas atividades registradas em catálogo bilíngue, lançado durante o evento de abertura da edição de 2010. O livro reúne imagens de trabalhos dos nove artistas e dois curadores selecionados na edição passada, além de textos críticos elaborados após o término das exposições, apresentando, assim, um amplo quadro de análise sobre a Temporada.

Cauê Alves, doutorando em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é um dos jovens críticos que participam da edição de 2010. Ele considera que, apesar de muitos artistas terem tentado romper com o modelo de salões, curadores e galerias em diferentes momentos históricos, é ingenuidade pensar que uma obra é mais independente apenas por não estar ligada a uma instituição. A Temporada se destaca justamente por não impor restrições à expressão individual do artista: “O Paço não faz salões, faz exposições individuais, faz projetos, e acho que isso é um diferencial”.

Um elemento importante no tratamento diferenciado oferecido pelo Paço é o intenso acompanhamento crítico recebido pelos artistas selecionados: a partir de um primeiro contato entre artista e crítico, é elaborado um texto de apresentação, publicado no site, nos folders da exposição e, posteriormente, no catálogo. Em seguida, cada crítico faz uma entrevista com o artista que acompanha. Somente após o término da exposição é elaborada uma crítica propriamente dita. O processo cria uma cumplicidade entre artista e crítico, possibilitando a este um olhar mais próximo sobre o trabalho.

Justamente por este formato inovador, a Temporada recebe muitas inscrições: nesta edição, foram quase 300 artistas, dos quais nove foram selecionados, expondo em três períodos ao longo do ano. A primeira mostra, em cartaz até 27 de junho, traz obras de Rick Castro, Nino Cais e Geraldo Zamproni. Este último, acompanhado por Cauê, apresenta a exposição “Sustentabilidade”, uma série de módulos que simulam blocos de concreto. Cada módulo é interligado a outro por meio de um zíper, aludindo à possibilidade de constante rearranjo, desconstrução e reconstrução.

A primeira exposição traz ainda o trabalho de um jovem curador, o carioca Felipe Scovino. Sua mostra “O Lugar da Linha” pretende, através de obras de cinco artistas, explorar as possibilidades da linha como elemento plástico em diferentes suportes. A segunda série de exposições, de 12 de julho a 29 de agosto, exibirá trabalhos de Pedro Varela, Ana Elisa Igreja e Rafael Campos Rocha. A Temporada se encerra com a última mostra, de 22 de novembro a 9 de janeiro de 2011, que traz obras de Tiago Judas, Estela Sokol e Rodrigo Bivar.