ISSN 2359-5191

24/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 38 - Sociedade - Centro Universitário Maria Antônia
Ciclo de palestras discute surgimento e ascensão do romance

São Paulo (AUN - USP) - O Centro Universitário Maria Antonia (CEUMA) ofereceu, durante o mês de maio, um ciclo de palestras sobre o romance dentro da história da literatura. Ministrado por Samuel Titan Jr., professor do Departamento de Teoria Literária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o curso faz parte de um projeto mais amplo sobre as formas literárias, que já abordou a tragédia e a poesia lírica.

As quatro palestras do ciclo tiveram como objetivo traçar a história do romance desde seu surgimento, mostrando como este formato, que hoje tende a ocupar um lugar preponderante na vida dos leitores, nem sempre teve destaque no universo literário. A partir desta ideia, o primeiro assunto abordado é justamente o romance mais antigo de que se tem notícia: o “Lazarillo de Tormes”, de 1554, narrativa que une ficção e prosa de forma até então inédita na literatura ocidental.

O próximo marco importante apontado por Samuel é a publicação das duas partes do “D. Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, em 1605 e 1615. Esta é considerada uma obra fundadora por ter estabelecido o que se tornaria uma grande característica do romance enquanto gênero: o conflito entre personagem e mundo. O herói, encarnação da moral de outra época, experimenta um “divórcio completo entre os valores que gostaria de viver e a cartilha que o resto do mundo está seguindo”. Outra característica inovadora deste livro é o fato de aproximar o tempo e o espaço da experiência do próprio leitor, fato que o diferencia das narrativas épicas.

Depois de abordar o grande autor espanhol do século XVII, Samuel passa ao romance inglês do século XVIII, ressaltando a passagem do ambiente cômico do Quixote para o ar mais sério do “Robinson Crusoé” de Daniel Defoe. Apesar de algumas continuidades em relação ao autor espanhol – por exemplo, as múltiplas viagens marítimas do protagonista, que remetem às várias aventuras do cavaleiro errante –, o professor identifica como característica primordial do romance inglês a racionalização, o “esforço por ancorar a narrativa em bases tão factuais quanto possível”. O personagem se vê preso aos valores burgueses mesmo na ilha em que está confinado, o que, por um lado, indica que precisamos destes ideais para sobreviver no meio selvagem; mas, por outro, sugere a imagem de que o dia a dia burguês é ele mesmo feito de selvageria, colonialismo, paternalismo.

A última palestra do ciclo foi centrada no romance francês do século XIX, com foco na obra de Honoré de Balzac. Samuel destaca que é só neste período que o romance passa, na visão da crítica, de gênero desprezível em termos morais e estéticos para centro do universo literário. Esta ascensão se deu não apenas pela preferência do público, mas também porque este gênero teve a virtude de incluir em si mesmo traços de outros formatos, substituindo o antigo sistema literário hierarquizado (no qual a tragédia colocava-se como gênero mais nobre) por um cenário de diálogos e trocas. Neste contexto, a importância de Balzac foi apropriar-se da forma do romance para construir o mais completo retrato da sociedade burguesa de seu tempo.

A discussão sobre o romance será retomada em setembro, com um novo ciclo que abordará este gênero desde o século XIX até a atualidade. Até lá, o projeto sobre formas literárias do CEUMA oferecerá outros três cursos: em junho, o tema é o ensaio e a crônica; em julho, os diários de viagem; em agosto, o conto.

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