São Paulo (AUN - USP) - Estima-se que cerca de um milhão de casos de queimaduras ocorram no Brasil todo ano. Em 50% deles, crianças são atingidas por esse trauma, principalmente por causa de acidentes com álcool. Produto de fácil acesso para elas, o álcool e a chama são importantes agentes causadores de queimaduras. âÃlcool e crianças tem combustão instantâneaâ, disse Bernardo Nogueira Batista, cirurgião plástico da USP participante da banca que discutiu o trabalho de Priscilla Godoi de Oliveira apresentado no I Simpósio de Fisioterapia no Trauma, ocorrido recentemente.
Responsável por 40% dos acidentes que ocorrem com crianças de sete à onze anos que resultam em queimaduras, o álcool é um produto que elas tem muito contato, principalmente aquelas de baixa renda. Isso porque, nessas circunstâncias, são freqüentes os casos de crianças que cuidam de crianças, que não vão pra escola e ficam sozinhas em casa. âAs classes mais baixas são mais acometidas por causa de dinheiro e educaçãoâ, revela Priscilla.
Através de um relato de caso, Priscilla analisou o tratamento de queimaduras de segundo grau profundas em casos de combustão de álcool em crianças e de que forma o atendimento melhor beneficia a recuperação do paciente. O caso de um menino de dez anos, que teve queimaduras de segundo grau na face, pescoço, tórax e mão por causa de uma explosão que ocorreu ao jogar um frasco de álcool em uma fogueira, é um exemplo de como o trabalho multidisciplinar e a intervenção imediata são importantes para o sucesso do tratamento clÃnico.
A abordagem do paciente foi realizada por diversas áreas, como Enfermagem, Terapia Ocupacional e Fisioterapia. Verificou-se que as seqüelas causadas pela queimadura, que diminuem a funcionalidade do paciente, foram de certa forma diminuÃdas pelas cirurgias realizadas, como enxerto de pele. A fisioterapia precoce impediu a progressão das complicações e melhorou a amplitude de movimento (ADM) dos locais atingidos com o acidente. âA seqüela da queimadura é muito grave. Para evitar, você precisa de várias coisas. A primeira, é um tratamento adequadoâ, disse Bernardo.
Ainda que uma equipe multidisciplinar e o foco na melhora da ADM sejam prioridades para o tratamento de crianças com queimaduras de segundo grau, o mais importante é investir em prevenção, tanto devido a questão social quanto econômica. âIgual a tudo em trauma, se você investir em prevenção, você evitaâ, explica Bernardo. A educação no paÃs, porém, é muito precária nesse sentido e o estudo de Priscilla, relatando um caso bem sucedido de tratamento de queimaduras, é uma mostra de como o tratamento correto dessas situações ainda está longe de ser uma situação normal nos centros de saúde do paÃs.