ISSN 2359-5191

19/06/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 12 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Geociências
Mapeamento desfaz enganos na mineralogia brasileira

São Paulo (AUN - USP) - Ouro preto, antes de emprestar seu nome à cidade mineira, já foi considerado o primeiro mineral descrito no Brasil, em 1711. Entretanto, quase três séculos depois, em 1995, o engano foi desfeito por Jacques Jedwab. O “mineral” abundante de outrora era, na verdade, uma mistura de óxidos de ferro, paládio, platina, cobre, ouro e manganês.

Erros de descrição como este, confundindo uma mistura com um mineral, não são raros na história da mineralogia brasileira. Ao contrário, estudo realizado por Daniel Atencio, professor do Instituto de Geociências da USP, comprovou que, da antiga lista de mais de 100 minerais descobertos no Brasil, apenas 39 realmente o eram.

A redução deu-se, sobretudo, porque foram-se acumulando equívocos durante séculos entre os mineralogistas que pesquisavam o solo brasileiro, a maior parte deles estrangeiros. Ao resgatar estudos dispersos sobre os minerais, Atencio detectou confusões tanto em relação à descrição quanto à própria nomenclatura dos minerais, que dificultam o trabalho do mineralogista.

Assim, os dados obtidos em cinco anos de pesquisa resultaram na publicação de “Type Mineralogy of Brazil”, em 2000. Entretanto, com projeto já aprovado pela Fapesp, a pesquisa continua e a expectativa é que resulte em uma nova versão, ampliada e revisada. “Naquela época, juntando informações, verifiquei que os minerais válidos eram aqueles, se bem que nem mesmo aqueles eram definitivos”, esclarece Atencio.

O objetivo, portanto, permanece o mesmo: levantar os pontos duvidosos, sejam eles definitivos ou não, para incitar uma posterior investigação. Vários problemas decorrem dessa “imensa bagunça”, como o professor caracteriza a classificação mineralógica como um todo. Desde complicações enfrentadas em pesquisas – como as que ele também sentia – até o fato de que muitos minerais acabam sendo explorados sem se saber exatamente como são, o que contêm e como poderiam ser economicamente melhor utilizados.

Outro problema apontado é a falta de estudos do solo brasileiro. Encontraram-se pouquíssimos minerais, reflexo de um certo desinteresse em relação a eles. Segundo Atencio, “estudando especificamente minerais, no Brasil, temos apenas seis pessoas. Em outros países, são cerca de 400”.

Entre as pesquisas que vem realizando, Atencio já encontrou problemas com o grupo da roscherita. “Das várias ocorrências descritas, descobriu-se que quase nada é realmente roscherita”, explica o pesquisador, que tem em mãos tecnologia que permite identificar com precisão os minerais presentes em uma amostra rochosa. É a da microssonda eletrônica, que faz uma análise pontual da amostra. Dessa forma, percebe-se que a composição química não é homogênea e que, o que se pensava ser um mineral era, na verdade, uma mistura deles. “Antigamente, dissolvia-se uma amostra total e a análise era feita em via úmida. Obtinha-se apenas uma tabela de composição química”. Da aparente homogeneidade, segundo Atencio, provêm grande parte dos erros.

Ao tentar esclarecê-los, uma das maiores dificuldades foi obter amostras dos minerais descritos. Algumas foram conseguidas em museus de Londres e Paris, por exemplo. Mas a maior parte delas se perdeu. De acordo com Atencio, “muitos dos minerais foram pesquisados, analisados e simplesmente jogados fora”.

Esse era um procedimento comum até 1959, quando foi criada dentro da Associação Mineralógica Internacional, a Comissão de Nomes de Minerais e Novos Minerais, representada no Brasil por Atencio. O rigor aumentou pois, ao se detectar um mineral, ele passou a ser julgado, analisado e, apenas depois de aprovado, obtém-se a permissão para publicar o trabalho. Além disso, uma amostra deve ser obrigatoriamente conservada.

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