ISSN 2359-5191

05/07/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 13 - Educação - Instituto de Matemática e Estatística
Matemáticos buscam a prosódia perdida

São Paulo (AUN - USP) - A forma como pronunciamos as palavras pode alterar, ao longo do tempo, a estrutura gramatical de uma língua? Um grupo de pesquisadores do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP acredita que sim. Eles fazem parte do projeto temático "Padrões Rítmicos, Fixação de Parâmetros e Mudança Lingüística" cujo objetivo principal é modelar a relação entre a prosódia - isto é, a variação na altura, na intensidade, no tom, na duração e no ritmo da fala - e a sintaxe na mudança lingüística que deu origem ao português europeu moderno.

O projeto, coordenado por Charlotte Galves, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, trabalha com a hipótese de que a mudança na sintaxe do português do século 19 foi desencadeada por uma mudança prosódica prévia, ocorrida no século 18, que alterou o padrão rítmico da língua falada. Registros escritos mostram que o português clássico usava majoritariamente a próclise em suas frases, utilizando-se de construções como "te amo", na qual o pronome vem antes do verbo, e o português europeu moderno passou a privilegiar o uso de ênclises como em "amo-te", com o pronome depois do verbo.

Apesar de não poderem ouvir a melodia da fala do português clássico (que acreditam ser muito parecida com a prosódia do português brasileiro), os pesquisadores sabem que houve uma mudança prosódica no século 18 através de registros como o de Gonçalves Viana, um foneticista do século 19, que dizia que os atores de sua época eram incapazes de recitar os versos decassílabos do poeta Luís de Camões, autor de "Os Lusíadas". Viana escreveu que os atores não pronunciavam as dez sílabas de cada verso, mas apenas sete ou oito, pois "comiam" algumas sílabas ao falarem.

Para analisar as diferenças entre o português clássico e o português europeu moderno os pesquisadores usam o modelo de Princípios e Parâmetros desenvolvido pelo lingüista norte-americano Noam Chomsky, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), como quadro teórico. "Segundo Chomsky, a língua é uma máquina biológica e para aprender uma língua nós fixamos alguns poucos parâmetros", explica o professor do IME Antônio Galves. "A criança tem uma capacidade inata de aprender idiomas. Ela recebe uma seqüência de palavras dos pais e atribui uma estrutura sintática às palavras. Mas a criança usa dicas prosódicas em seu aprendizado, usa a música da língua como pista", diz Galves. Portanto, a criança fixa os valores dos parâmetros durante o processo de aquisição de uma língua e usa seu conhecimento de padrões rítmicos para adivinhar as estruturas das sentenças que ouve. Dessa forma, uma mudança gramatical acontece durante a aquisição de uma língua e corresponde a fixação de um valor paramétrico de forma diferente do que vigorava na geração anterior.

O grande desafio dos matemáticos é desenvolver um modelo que propicie um mecanismo de medida da probabilidade que governa as escolhas de determinadas possibilidades prosódicas e não de outras e, assim, determinar a prosódia subjacente aos textos, objetivo que eles chamam de "a busca da prosódia perdida".

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