ISSN 2359-5191

22/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 125 - Ciência e Tecnologia - Universidade de São Paulo
Descaso do Governo barra avanço em pesquisas do genoma humano

São Paulo (AUN - USP) - A conclusão do sequenciamento do genoma humano, em 2003, fez com que muitas pessoas pagassem por um mapa genético pessoal, na esperança de prever doenças. É o caso do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Porém, ainda em 2010, o Brasil não consegue avançar nas pesquisas sobre o genoma humano devido ao alto custo de importação do equipamento e à sua demora para chegar ao país.

Em setembro, o Hospital AC Camargo comprou o seqüenciador mais avançado atualmente disponível, o SOLiD 4.0 HQ, que realizaria as primeiras análises genéticas no mês de outubro. Porém, de acordo com pesquisadores do hospital, algumas peças do equipamento tiveram que ser trocadas. No entanto, a encomenda vinda dos EUA ainda não chegou no Brasil. A nova previsão, é que o aparelho opere até o final do ano.

Outras duas instituições, a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e o Hospital Albert Einsten, também possuem o equipamento, mas com menos recursos. “O SOLiD 4.0 HQ tem uma qualidade muito maior”, comenta o pesquisador do Laboratório de Neurociências do Instituto de Pesquisa da FMUSP, Emmanuel Dias-Neto. O seqüenciador é capaz de produzir mais dados sobre um mesmo cromossomo, o que expande os estudos – tanto em número de pacientes como em qualidade do resultado.

O Dias-Neto enfatiza a velocidade do avanço tecnológico na área do Genoma. “Para a realização do primeiro mapa genético humano, foram gastos US$ 15 bilhões, em 300 laboratórios, no início da década; hoje, apenas um laboratório pode levas duas semanas, a um custo de US$ 6 mil”. Para ele, por meio do mapa genético, as chances de se prever o aparecimento de algumas doenças muito específicas chega a 100%. “Estas informações são úteis para a conduta clínica e podem determinar a sobrevida do paciente, que terá que passar por exames mais freqüentes para detectar o aparecimento de tumores malignos”. Na USP, várias pesquisas identificam marcadores genéticos do câncer de mama, de próstata, tireóide e até mesmo da Doença de Alzheimer.

O pesquisador da USP, Luiz Fernando Onuchic, integrante de um estudo multicêntrico mundial, descobriu a mutação de gene relacionada à doença renal policística autossômica recessiva, que atinge um a cada 500 nascidos no Brasil. Em ratos, o grupo conseguiu frear a evolução da doença, mas por causa da legislação brasileira, os estudos pré-clínicos em doentes no país ainda não puderam ser realizados. “O uso do genoma humano em larga escala exigirá um novo embasamento ético e jurídico”, aponta.

Mas para Dias-Neto, o que mais impede os avanços das pesquisas é o preço da importação – que deixa o produto três vezes mais caro que nos EUA – e o tempo de entrega, que pode chegar a três meses. “A solução seria o Governo priorizar a pesquisa. É apenas uma decisão política”, argumenta o pesquisador. No Brasil, o Imposto de Importação de um rubi, um diamante ou uma esmeralda é de 10%; já o de uma ressonância magnética é de 14%, ou seja, 40% maior.

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