ISSN 2359-5191

23/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 126 - Saúde - Universidade de São Paulo
Índio de Ubatuba tem pouca assistência do governo

São Paulo (AUN - USP) - Aldeia indígena do município de Ubatuba (SP) tem pouco amparo do governo local. Faltam ações específicas que melhorem a relação intercultural entre a aldeia e a cidade. Essa foi uma das conclusões da dissertação de Mestrado “Jovens entre culturas: itinerários e perspectivas de jovens Guarani entre a aldeia Boa Vista e a cidade de Ubatuba” defendida na USP por Maria Daniela Macedo, atualmente professora de Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Espírito Santo.

Cerca de 150 índios da etnia Guarani-Mbyá vivem na aldeia Tekoá Jaexaá Porã, ou Boa Vista. O local conta com um pequeno posto de saúde. Há também uma escola indígena que não chega a cumprir todo o programa do ensino fundamental. Por isso, para vender e comprar produtos e ter acesso a mais escolas e hospitais, grande parte dos índios precisa frequentar o centro da cidade de Ubatuba, que fica a 20km de distância. No entanto, não existe estrutura para isso. O transporte público tem horários reduzidos, e faltam pontos de ônibus na aldeia; nas feiras livres onde os índios podem comercializar seus produtos, não há banheiros públicos, iluminação adequada e local para estocar as mercadorias que trazem da aldeia.

As diferenças culturais trazem alguns agravantes. No caso das crianças e jovens indígenas, o português é sua segunda língua. Na aldeia, eles se relacionam com toda a comunidade apenas em guarani. Aprendem o português mais tarde, na Escola Indígena Tembiguaí que fica na própria aldeia, porque compreendem que os diálogos interculturais são importantes. Mas quando os índios passam a frequentar as escolas de Ubatuba, a partir do 5º e 6º ano do Ensino Fundamental II, surgem as dificuldades para se comunicar com professores e colegas pela falta de pleno domínio do português. O próprio conteúdo das matérias gera conflito. As aulas de história, por exemplo, mal tocam no contexto indígena. Maria Daniela registrou o seguinte relato de uma jovem índia: “A matemática é difícil pra mim. É que na minha cultura não tem número assim. Tanto número”. A pesquisadora reforça que iniciativas que facilitem a interação devem ser introduzidas nas escolas frequentadas por alunos indígenas.

Outro desafio é a conciliação entre o conhecimento tradicional e o científico quando se trata de saúde. “Os Guarani procuram primeiro os ritos para cura e depois a assistência médica, porque todo o seu entendimento de mundo passa pela religiosidade”, disse a pesquisadora. O diálogo entre os diferentes saberes existe dentro da comunidade, pois grande parte dos agentes de saúde é indígena. Falam a mesma língua de seus pacientes e conhecem as tradições de seus antepassados. No entanto, quando precisam ser atendidos nos postos de saúde e hospitais de outras regiões, os índios se sentem coibidos, discriminados ou mal interpretados. Aos pacientes, falta intimidade com o português e com a medicina formal. Quanto aos médicos, falta conhecimento das tradições indígenas. Maria Daniela relembrou casos em que a intermediação teve de ser feita pelo motorista, que entregou a documentação e explicitou o caso.

Atualmente, a pesquisadora está envolvida na elaboração de projetos que integrem diferentes comunidades de índios guarani, para fortalecer suas relações. As aldeias envolvidas são a de Ubatuba, e a do município de Aracruz, no Espírito Santo. Talvez com isso, Maria Daniela também consiga reforçar o papel que os índios têm na articulação de políticas públicas que os favoreçam, junto ao governo brasileiro.

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