ISSN 2359-5191

23/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 126 - Educação - Faculdade de Medicina
Filmes legendados educam crianças, mas ainda apresentam falhas

São Paulo (AUN - USP) - Muitos filmes infanto-juvenis têm legendas difíceis de serem lidas, dificultando o seu uso como ferramenta educativa para crianças. Essa é uma das críticas da fonoaudióloga e professora da USP, Maria Silvia Cárnio. Ela foi a orientadora da dissertação de Mestrado de Michele Viana Minucci, intitulada “Avaliação da compreensão da leitura de legendas de filmes por escolares de Ensino Fundamental” e defendida na Faculdade de Medicina da USP.

Toda a equipe de trabalho de Maria Silvia ficou responsável por assistir a dezenas de filmes infantis e infanto-juvenis para a seleção de um único filme que servisse de base para a pesquisa de Michele. O filme escolhido foi a animação “Procurando Nemo” por apresentar legendas com textos curtos, e um ritmo de filme mais lento, capaz de ser compreendido por crianças alfabetizadas.

No entanto, durante o processo de seleção, a equipe percebeu que as legendas de muitos filmes apareceram com a cor e o posicionamento na tela impróprios. Exemplos citados foram as legendas brancas que muitas vezes se tornam ilegíveis pela falta de contraste com cenas e detalhes na mesma cor. “Além disso, observamos casos em que a legenda ficava em cima de detalhes que eram importantes para a compreensão do filme. Essa sobreposição causava inclusive confusão na própria leitura. Uma solução seria passar o filme acima de uma tarja preta que contivesse a legenda”, explicou Maria Silvia. Outro detalhe observado diz respeito ao vocabulário. A tradução para o português deve se atentar às limitações de cada faixa etária, usando sinônimos mais conhecidos sem, no entanto, pender para o reducionismo. Uma sugestão seria oferecer diversas legendas para o mesmo filme, categorizadas por níveis de séries escolares.

O trabalho de Michele avaliou a capacidade de compreensão de legendas por alunos de 2ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, de duas escolas estaduais da Zona Oeste de São Paulo. Após a exibição de um trecho do filme, sem áudio e com legenda em português, os alunos tinham de responder algumas questões sobre a compreensão de leitura. A conclusão foi de que as crianças de ambas as séries mostraram pouca ou nenhuma experiência em assistir a filmes legendados.

“A leitura, no Brasil, é vista como algo chato. Não estimula-se o hábito de ler nas crianças. Como a imagem chama mais a atenção, o uso de filmes legendados pode ser um começo”, declarou Maria Silvia. No entanto, a ideia não é substituir a leitura de livros, e sim, aumentar habilidades. “Lendo um texto fixo, você determina o ritmo, que pode ser muito lento. Mas se quiser acompanhar um filme legendado, é necessário acelerar. Se uma pessoa é capaz de ler textos fixos e textos móveis – como as legendas – ela se torna um leitor muito mais proficiente, com uma leitura mais ágil. Consequentemente é capaz de ler mais livros, aumentando seu repertório”.

Questionada sobre a ausência de programas legendados na TV aberta, a professora declarou que isso explicaria, em parte, a relutância das crianças. “Eu costumo dizer para as mães: vê se você consegue tirar um filme na locadora e coloca a legenda, mesmo que o áudio esteja em português. Elas me respondem que o filho reclama que a legenda atrapalha. Isso, pra mim, é falta de hábito. No começo, as crianças pegam uma ou duas palavras, geralmente as que aparecem com maior frequência. Com o tempo, vão avançando na leitura.”

Segundo Maria Silvia, até mesmo crianças não alfabetizadas deveriam ter contato com as legendas. Ela afirma isso correlacionando a leitura de legendas com a importância do contato de crianças muito pequenas com livros escritos, não só de figuras. “Mesmo que a criança não leia, ela vai percebendo que tem alguma coisa ali na página que chama atenção. Uma vez uma criança me perguntou: ‘por que tem tanto poste aqui?’. ‘Poste?’, eu perguntei. Ela me mostrou a escrita, e a disposição da letra T pelo texto realmente parecia um poste. Com isso, você estimula a criança. A curiosidade parte dela mesma. No caso de filmes com legenda, a criança começa a perceber que tem palavras que se repetem muito, em quase todo filme. ‘Obrigado’, tchau’, ‘oi’, nomes dos personagens.”

As legendas não auxiliam somente as crianças. Pessoas que não têm tempo ou dinheiro para estudar uma outra língua teriam contato auditivo assistindo filmes legendados, sem importar se há compreensão ou não. “Esse simples contato é importante para conhecer outras culturas”, disse Maria Silvia. Outras pessoas que podem se beneficiar com a leitura de textos móveis são as pessoas surdas e as que sofrem de algum distúrbio de leitura e escrita, como a dislexia.

A professora completa citando a internet e a troca de mensagens instantâneas como um terceiro tipo de leitura, que apesar de recente, é muito importante. E defende: “o leitor deve ter acesso a todos os tipos de mídias disponíveis.”

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