ISSN 2359-5191

11/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 09 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Pesquisadores do IQ transformam luz vermelha em azul através de reações químicas
Nova descoberta em quimiluminescência poderá ter aplicações em análises biológicas, dispositivos de aquisição em imagens e sinalizações de segurança

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP e do Centro de Ciências Naturais e Humanas (CNH) da Universidade de Federal do ABC (UFABC), em parceria com a Universidade de Jena, na Alemanha, trouxeram uma novidade no campo da quimiluminescência. A descoberta de que é possível transformar luz vermelha em azul por meio de reações químicas foi a base de um artigo científico, que será publicado em abril na capa do New Journal of Chemistry, da França.

Utilizando um simples laser de cor vermelha, os cientistas promoveram a reação química entre uma substância orgânica e o oxigênio. O produto desta reação é o dioxetano, um composto de alta energia e extremamente instável, que se decompõe em temperatura ambiente, liberando sua energia em forma de luz azul.

Tal mudança de cor é algo incomum, pois, normalmente, a quimiluminescência trabalha com a passagem de uma luz de mais energia em uma de menos energia, e não o contrário. O professor da UFABC, Erick Bastos Leite, que estava envolvido na pesquisa, declarou recentemente à Agência de Notícias FAPESP que o processo é como "mandar a energia de luz 'ladeira acima'. É como fazer a água de uma cachoeira subir".

As propriedades luminosas do dioxetano já eram conhecidas e a conversão de uma luz à outra já era realizada através da física óptica. Contudo, nunca antes havia sido feita a partir de um método químico. "O que fizemos foi juntar todas as etapas do processo, criando algo absolutamente novo", esclarece Bastos na mesma entrevista.

A pesquisa para o desenvolvimento da "cascata ao contrário" surgiu durante o desenvolvimento de uma pesquisa paralela, na Universidade de Jena, para a criação de um sistema industrial de proteção contra falsificação baseado em quimiluminescência. Um dos envolvidos era o brasileiro Luiz Francisco Monteiro Leite Ciscato, químico formado pela USP, que estava fazendo sua pós-graduação empresarial na Alemanha desde 2008. "A descoberta foi ao acaso. Estávamos na verdade buscando um meio de detectar etiquetas falsas em produtos chineses importados pela Alemanha, entre eles medicamentos", explica Ciscato.

Obter a luz azul em um processo tão simples, rápido e de baixo custo é, portanto, muito vantajoso. Entre as possíveis aplicações estão a utilização em análises biológicas, dispositivos de aquisição de imagem, técnicas de criptografia e sinalizações de segurança. Entretanto, o lançamento do artigo científico para o mundo todo pode acarretar aplicações ainda nem imaginadas, sugeridas por qualquer outro cientista.

O pesquisador Ciscato explicou a vantagem de utilizar a luz vermelha para os estudos biológicos, por exemplo. Em meio intrecelular a irradiação vermelha é muito útil pois quase não transgride a célula, por ser menos energética, e, depois, é feito análise biológica com a luz azul.

O tratamento luminoso também é uma vantagem, porque é facilmente perceptível e muito mais barato que métodos atualmente utilizados. Além disso, pode ser utilizada para detectar a presença de oxigênio, já que este é um dos reagentes da reação, e até anticorpos no organismo.

A descoberta está sendo divulgada não só pela publicação francesa, mas também por revistas científicas alemãs e norte-americanas. É possível que a química das cores traga ainda muitos benefícios.

O artigo Chemiluminescence-based uphill energy conversion (doi:10.1039/C0NJ00843E) pode ser lido em http://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2011/nj/c0nj00843e.

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