São Paulo (AUN - USP) - Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxinas do Instituto Butantan, Osvaldo Augusto Sant’Anna encabeça pesquisa de vacina oral contra a hepatite B. A novidade diminui custos e revoluciona o conhecimento sobre vacinação. O que propiciou o estudo foi a descoberta da sílica nanoestruturada, composto que protege a vacina contra a acidez do estômago. Até então, havia apenas algumas vacinas que podiam ser produzidas em gotas, que são absorvidas ainda no esôfago, não sendo possível, entretanto, a fabricação delas para todas as doenças.
A sílica nanoestruturada é o veículo para levar o antígeno de forma protegida (vacina) diretamente para o sistema imunológico do indivíduo, sem ter de usar seringa e agulha. Por isso, será reduzido o uso de material — o que tornará o processo menos custoso —, além de ser operacionalmente mais barato por não demandar pessoal especializado para a aplicação das vacinas. O antígeno chega ao sistema imune do intestino e é ali absorvido, o princípio de ação é o mesmo da vacinação natural — que ocorre diariamente, a praticamente todo instante.
Com esse estudo, cria-se um novo significado da vacinação oral, pois com a sílica é possível atingir o sistema imunológico a partir de um processo que simula o natural, estimulando as células que têm memória e os anticorpos criados espontaneamente por meio do contato com determinada doença. Isso também inibe os efeitos colaterais. “Conceitualmente, muda-se o conhecimento”, garante Sant’Anna. Ele afirma que o que se modifica é a consciência do que significa saúde pública, “pois jamais se pensou que essa e outras vacinas pudessem ser administradas via oral”.
A fase pré-clínica já terminou. A vacina foi testada em camundongos, ratos e cães, com resultados positivos. Como três espécies, inicialmente, comprovam e completam o estudo, considera-se demonstrado assim que a novidade funciona. A partir de então, é preciso estabelecer o protocolo de pesquisa clínica para que voluntários se disponibilizem para os testes. A expectativa é de que a nova aplicação possa ser testada a partir do ano que vem.
O pesquisador pretende também, com o estudo, relacionar a concentração de antígeno à indução da memória. “Se induzo boa memória, tenho para a vida toda a proteção”, além do custo poder baixar ainda mais, porque assim há a possibilidade de que se vacine com concentração bem menor do que a injetada hoje em dia.
Um grande facilitador da descoberta, de acordo com Sant’Anna foi a multidisciplinaridade. O trabalho inicial com professores de química e física possibilitou-os encontrar a sílica. Para o pesquisador, essa é uma ferramenta importante, pois ajuda a desenvolver a percepção para um problema de saúde, por meio de outras áreas, e assim consegue-se resolvê-lo e, muitas vezes, criam-se novos conceitos e modos de se fazer.