ISSN 2359-5191

15/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 71 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Brasileiros tendem a votar em pessoas de mesma raça

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa revela que, no Brasil, em eleições, há uma tendência à predileção por candidatos racialmente iguais. O estudo é do professor Scott Desposato, da Universidade da Califórnia, e foi apresentado recentemente em um evento na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

Com o nome de “The Racial Democracy? Latent racial cues and vote choice in Brazil”, a pesquisa se baseava em mostrar para pessoas comuns perfis fictícios de alguns candidatos políticos, com sua história e propostas. A pessoa deveria ler os perfis e indicar em qual daqueles candidatos ela votaria. O Brasil foi o país escolhido por ser internacionalmente conhecido como um exemplo de democracia racial. Um detalhe interessante é o fato de os candidatos terem sido criados virtualmente, a partir da mistura e edição de fotos compradas em banco de dados.

Havia três fichas diferentes para serem lidas. A primeira possuia apenas três candidatos. Nesse primeiro experimento, os resultados não chegaram a dar respostas significativas. Como os entrevistados tinham paciência para ler todos os perfis e avaliar com cuidado, eles acabavam levando as propostas mais em conta, e a raça do candidato pesou pouco nos resultados.

Desposato explica que entre os entrevistados que se classificaram como “brancos”, 20% votaram em um candidato branco, 18% votaram em um candidato negro. Entre os que se classificaram como “negros”, 17% votaram em um candidato branco, 23% votaram em um candidato negro.

“A partir do momento em que o experimento passa para 6 ou 12 candidatos por ficha, nós podemos perceber que os entrevistados não têm mais tanta determinação em ler todos os perfis. Eles apenas passam o olho e outros aspectos começam a interferir nas suas decisões”, explica.

Os dados apresentados pelo pesquisador revelam que, ao serem confrontados com fichas que tinham 12 perfis diferentes, 21% dos entrevistados que se classificaram como “brancos” votaram em algum candidato branco, enquanto só 11% votaram em algum candidato negro. No caso dos entrevistados que se classificaram como “negros”, a discrepância foi ainda maior: 17% votaram em algum candidato branco enquanto 46% preferiram votar em algum candidato negro.

Desposato tira algumas conclusões disso. A primeira delas é que, no Brasil, as pessoas negras têm uma tendência clara por escolher pessoas da mesma raça. Já no caso das pessoas brancas, essa tendência só aparece mais quando não há outros fatores envolvidos. Outra conclusão do estudo é que essas preferências tendiam a aumentar de acordo com a faixa de idade, ou seja, quanto mais idosa fosse a pessoa entrevistada, mais ela tendia a votar em alguém da mesma raça.

Obstáculos para uma pesquisa em ciências políticas
O pesquisador chama a atenção para o fato de a pesquisa não indicar que as pessoas invariavelmente preferem alguém da mesma raça. Ela só mostra uma tendência. E esse resultado ainda pode depender de diversas outras variáveis. “Por exemplo: o Brasil é um país cujo partido do candidato faz uma diferença extremamente significativa na hora de votar. Nós tivemos que subtrair os partidos dos perfis de nossos candidatos, caso contrário, esse seria o fator que determinaria a escolha, e não a cor da pele, como nós gostaríamos de observar”, afirma.

Ao tocar nesse assunto, Desposato reflete sobre como existem diversos problemas ao se promover um estudo observacional. O primeiro deles é que pode ser extremamente difícil mensurar a quantidade de variáveis X que interferem em determinado processo. O segundo dos problemas é que sempre pode existir uma outra variável não cogitada que explique os resultados encontrados na pesquisa. “Há também a questão de se chegar a um impasse: É X que causa Y ou Y que causa X? É a paz que gera a democracia ou é a democracia que gera paz?” questiona o pesquisador.

Por fim, Desposato fala sobre como há um número grande de experimentos questionáveis sendo desenvolvidos sem qualquer supervisão. Nesse aspecto, ele elegia bastante o Brasil e o México, por terem desenvolvido conselhos de ética e pesquisa extremamente rigorosos com a qualidade dos projetos que serão desenvolvidos.

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