São Paulo (AUN - USP) Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é definida como um estado em que a hemoglobina sanguínea encontra-se em valores abaixo dos considerados normais para idade, sexo e situação fisiológica devido à carência de um ou mais nutrientes, independente da sua origem. Dentro dos tipos de anemia encontra-se a anemia ferropriva, caracterizada pela baixa concentração de hemoglobina sanguínea devido ao suprimento inadequado de ferro.

A anemia ferropriva em mães e crianças do Brasil foi o objeto de estudo de pesquisa realizada por Claúdia Regina Marchiori Antunes Araújo para a obtenção de seu título como doutora em ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EESP). A conclusão da pesquisa foi demonstrada em uma tese defendida em junho de 2012, cujo resultado revelou que as mães apresentaram chance 1,62 vezes maior de ter anemia do que os filhos e não se verificou associação entre anemia nas mães e nos filhos, isto é, constatou-se uma maior vulnerabilidade à anemia ferropriva nas mães, grupo que necessita de maior atenção por parte das políticas públicas de saúde coletiva.

Anemia no Brasil e no mundo
A anemia possui altos índices de ocorrência em mães e crianças tanto no Brasil como no mundo. Tendo em vista que é uma enfermidade socialmente determinada, áreas de pobreza e vulnerabilidade social apresentam taxas mais altas e é onde estão os grupos que apresentam os índices mais preocupantes e demandam maior atenção da gestão pública.

A pesquisadora comenta que especificamente em mães e filhos - mulheres não grávidas em idade fértil e crianças pré-escolares menores de cinco anos -, a prevalência global de anemia é alta - 47,4% das crianças e 30,2% das mulheres em idade fértil -, porém com diferenças importantes entre as regiões ricas e pobres, as quais apresentam prevalências muito mais elevadas. Na África e Sudeste da Ásia, por exemplo, quase dois terços das crianças e metade das mulheres em idade fértil são acometidas por essa carência nutricional.

No Brasil, enquanto a taxa de incidência de anemia em crianças está abaixo da média global (20,9%), explicada pelo investimento em políticas públicas voltadas ao enriquecimento de farinha para suplementação de ferro nos primeiros anos de vida, por outro lado a taxa em relação às mães mantém-se equivalente à média mundial com 29,4%.

Método e resultados
O estudo realizado por Cláudia consistiu na análise dos dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança (PNDS) edição de 2006, a qual realizou análise de hemoglobina em 5.915 mulheres e 4.558 crianças das cinco macrorregiões do Brasil, abrangendo as áreas urbanas e rurais. A pesquisadora também produziu novos dados a partir de 1.382 pares de mães e filhos. Foram incluídos somente os domicílios com mães de crianças nascidas a partir de 2001, que haviam realizado o exame de hemoglobina e que não estivessem grávidas. Apenas um de seus filhos biológicos de 6 a 59 meses foi incluído no banco, selecionados por sorteio.

Os resultados indicaram que embora mães e filhos estejam expostos aos mesmos determinantes sociais e ambientais que aumentam a suscetibilidade para anemia, as restrições alimentares ocasionadas por condições socioeconômicas e demográficas desfavoráveis têm maior impacto nas mães, isto porque as mulheres em idade fértil demandam maior quantidade de ferro e a criança conta com a proteção da mãe para amenizar o quadro.

O estudo também determinou que a anemia afeta de modo diverso mães e crianças de acordo com a região na qual habitam. Na análise múltipla, mães e filhos que residiam nas regiões Nordeste e Centro-Oeste apresentaram chance 2,24 e 1,70 vezes maior, respectivamente, em relação às da região Sul. A anemia nas mães também se associou às macrorregiões nas quais elas habitavam, sendo que a chance de apresentar anemia é de 2,39 vezes maior para as mães da região nordeste em relação às do sul.