ISSN 2359-5191

17/11/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 113 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Plantas que convivem com mecanismos diferentes

São Paulo (AUN - USP) - Em sua pesquisa de mestrado, Joyce Marques Barbosa estudou a comparação de plantas epifíticas – plantas que vivem sem contato com o solo e que normalmente crescem sobre o tronco de árvores – com padrões de uso de água diferentes. Esse tipo de planta é comum em florestas tropicais e não se enraízam no solo, com algumas espécies que conseguem se desenvolver em cascas de árvores acima do nível do chão. São as samambaias, as cactáceas, conhecidas como flores-de-maio, as bromélias e orquídeas, entre outras.

Mesmo fazendo parte do mesmo grupo, algumas plantas apresentam condições de sobrevivência diferentes. AMicrogramma squamulosa, por exemplo, é conhecida pelo seu mecanismo de evitar a perda de água. Isso quer dizer que elas possuem características que permitem manter um conteúdo relativo de água interna favorável, porque para a maior parte das plantas, a perda de água em um nível de 20% pode causar danos irreversíveis e levar à morte, ou seja, são sensíveis a dessecação. Por sua vez, a outra espécie, Pleopeltis hirsutissima é conhecida pela tolerância à dessecação: capacidade de tolerar uma perda de água rigorosa, e conseguem sobreviver mesmo após perder mais de 90% do conteúdo relativo de água.

Visto a existência de fortes indícios de que espécies tolerantes à dessecação apresentam custos mais elevados do que as sensíveis à dessecação e considerando que as duas espécies ocorrem com frequência juntas, a hipótese da pesquisa de Joyce era de que as tolerantes (Pleopeltis hirsutissima) assimilassem mais carbono. Além disso, tomando como base a maior eficiência de proteção contra danos induzidos pela luz em espécies tolerantes, era esperado que a Pleopeltis hirsutissima ocorresse em regiões mais iluminadas do que a espécie sensível (Microgramma squamulosa).

Orientada pelo professor Sergio Tadeu Meirelles, do Laboratório de Ecofisiologia Vegetal, do Instituto de Biologia (IB) da USP, a pesquisadora, utilizou amostras do próprio campus da USP da Cidade Universitária. “Com todo esse tamanho, tive que escolher aquelas que eram mais fácil para alcançar e que preenchessem as condições estabelecidas”, explica. As escolhidas tiveram que obedecer a critérios como fazer parte das espécies determinadas, habitar a mesma árvore. O estudo foi feita por meio de análises sobre a dinâmica do uso da água, a quantidade de carbono adquirida, a dinâmica da capacidade de uso da luz, estado de hidratação das folhas e seus pigmentos fotossintéticos.

Os resultados apresentaram sinais de que as espécies estão bem estabelecidas no ambiente em que estão e reforçaram as formas distintas das duas plantas de lidar com os recursos e condições de onde vivem. Mas a P. hirsutissima não apresentou uma absorção de carbono superior a M. squamulosa, indicando que o ganho de carbono não é um dos fatores possíveis na compensação dos custos presentes na sua estratégia de tolerância. Quanto à dinâmica da capacidade de uso da luz sugere que a coexistência é facilitada pela segregação de nichos de luz. Isso pode acontecer porque a Pleopeltis hirsutisima aparenta ser mais exigente por luz e apresenta menos danos quando expostas a luz de maior intensidade do que a Microgramma squamulosa, então elas podem ficar numa mesma árvore, um em cima da outra, exemplificou Joyce.

A pesquisadora do IB conta ainda uma curiosidade: a Pleopeltis hirsutissima e grande parte das plantas tolerantes à dessecação tem uma característica especial. Para suportar o período sem água, sua aparência costuma ser a de uma planta seca, morta, inclusive com as folhas enroladas. Ela destaca também o fato de que muitas pessoas confundem as epífitas com parasitas e acabam destruindo-as, “o que é triste, já que além de serem muito bonitas, elas são importantes para a manutenção da diversidade biológica e contribuem com a biomassa vegetal”.

Essas e outras informações disponíveis no seu trabalho são importantes tanto para a comunidade em geral como dentro do meio acadêmico. Joyce ainda tem vontade de estender o trabalho e produzir materiais didáticos para escolas e outros locais como forma de esclarecer e explicar mais sobre o assunto.

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