São Paulo (AUN - USP) - Genes que conferem resistência a medicamentos antimicrobianos foram encontrados em enterobactérias presentes em amostras retiradas de ambientes aquáticos da Região Metropolitana da cidade de São Paulo. As bactérias eram multirresistentes a cefalosporinas e quinolonas, que são antibacterianos de amplo espectro, muito prescritos atualmente.
Esses apontamentos foram feitos na dissertação Monitoramento da resistência aos antibacterianos em membros da família enterobacteriaceae recuperados de ambientes aquáticos no Estado de São Paulo de Lívia de Carvalho Fontes. O trabalho foi feito no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, entre 2010 e 2012, sob orientação do professor Nilton Erbet Lincopan Huenuman.
As enterobactérias estão presentes geralmente no intestino do homem e dos animais e a mais conhecida delas é a Escherichia coli. A patogenicidade pode ser variável, e depender do estado imunológico do hospedeiro. O tratamento das infecções causadas por estes microrganismos é feito com antibióticos, por isso, a presença de cepas multirresistentes no meio ambiente implica em riscos às pessoas.
As coletas para o trabalho foram realizadas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) principalmente nos rios Tietê e Pinheiros, além de estações de tratamento de esgoto. Com as amostras, Lívia, no laboratório no ICB, realizava uma pré-seleção das bactérias resistentes e, em seguida, uma identificação das espécies bacterianas. Por último, a bióloga realizou uma pesquisa dos genes envolvidos na resistência aos antibacterianos.
Segundo Lívia, muitos estudos avaliam a resistência de bactérias de procedência clínica. Com a avaliação de amostras ambientais, é possível aumentar a discussão a respeito do surgimento de microrganismos resistentes. A bióloga diz que não é possível determinar, com seu estudo, em que local ocorreu o surgimento das cepas resistentes ou qual dos ambientes foi contaminado posteriormente. No entanto, o relato de ocorrência destes organismos em lugares diferentes dos convencionais pode orientar outros trabalhos de investigação.
Além disso, a ocorrência dessas bactérias em ambientes que não hospitais ou centros de tratamento leva ao questionamento da segurança da saúde da população e os riscos de contaminação de pessoas e animais que ficam expostos às represas e rios em São Paulo. A pesquisadora alerta para a necessidade de aprimorar o tratamento do esgoto desprezado por indústrias que manipulam substâncias que possuem antimicrobianos em sua formulação. Segundo ela, um tratamento mais eficaz na remoção desses compostos poderia impedir que antimicrobianos fizessem parte dos resíduos descartados no ambiente, evitando, dessa forma, a seleção de microrganismos cada vez mais resistentes aos antibióticos utilizados pela população.