ISSN 2359-5191

05/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 123 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Efeitos do etanol em camundongos adolescentes é tema de pesquisa

São Paulo (AUN - USP) - Um projeto de pesquisa desenvolvido no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e coordenado pela professora Rosana Camarini estudou os efeitos do etanol em camundongos adolescentes. Para isso, foram analisadas as alterações comportamentais e neuroquímicas causadas pela administração crônica de etanol em adolescentes e as consequências disso na vida adulta. “Dados epidemiológicas mostram que quanto mais cedo o indivíduo entra em contato com o álcool, maior a probabilidade dele desenvolver algum problema relacionado a dependência”, conta Rosana.

Além disso, uma pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), nas 108 cidades mais importantes do país, mostrou que a dependência ao álcool na faixa etária de 12 a 17 anos, que em teoria não pode consumir bebidas alcoólicas, é de 7%. A vontade de entender melhor o porquê desses dados, despertou o interesse de Rosana nessa linha de pesquisa com adolescentes.

Métodos
Para estudar a dependência nos animais, foi utilizado o modelo de sensibilização comportamental que é um fenômeno que analisa um aspecto específico e reflete alterações comportamentais. Essa sensibilização é o aumento do efeito da droga, após administração repetida, sendo o oposto da tolerância, que é a diminuição de um efeito. Na pesquisa, esse modelo é definido como o aumento progressivo da atividade locomotora do camundongo após injeções repetidas de etanol. A primeira etapa foi caracterizar essa sensibilização em adolescentes.

O experimento é feito com dois grupos de camundongos, um de adolescentes e o outro de adultos. Os animais receberam doses diárias de etanol – de 1,8 gramas por quilo corporal ou 2 gramas por quilo, doses consideradas baixas – por um período de 15 dias. Para medir a sensibilização comportamental, um programa computacional calcula quanto cada um andou em centímetros naquele dia. Com injeções repetidas, esperava se que eles desenvolvessem sensibilização e aumentassem a atividade locomotora. No entanto, isso não aconteceu com os adolescentes tratados com essa dose. Ao invés de desenvolver a sensibilização clássica dos adultos, eles desenvolveram tolerância. Em alguns casos houve esse estímulo locomotor, mas ele era muito menor quando comparado ao dos adultos.

Para entender melhor isso, um novo experimento foi feito com doses de 2,2g/kg e 2,4g/kg. O resultado mostrou que o adolescente precisa de uma dose maior para ter a resposta de sensibilização locomotora, já que são menos sensíveis a esse estímulo induzido pelo etanol. Isso explica o fato de adolescentes roedores, normalmente, apresentarem maior consumo de álcool quando comparados aos adultos. Para entender os reflexos dessa experiência prévia com álcool na vida adulta foi feita uma pesquisa com relação as mudanças relacionadas a idade em efeitos recompensadores do álcool. Para medir esses efeitos foram utilizados dois procedimentos: o teste de escolha das duas garrafas e o da preferência condicionada de lugar.

No primeiro, duas garrafas são apresentadas para o animal, uma com água e outra com álcool e ele escolhe qual vai beber. Antes do experimento, adolescentes e adultos foram tratados, durante 15 dias, com álcool ou salina, o que constituiu quatro grupos de animais de acordo com a idade e com a substância injetada. Depois dessa experiência prévia os animais foram expostos às duas garrafas. Na de etanol, foi acrescentado açúcar – já que dificilmente o roedor beberia álcool puro – e de 4 em 4 dias a solução era alterada, aumentava a concentração de álcool e diminuía a de sacarose. Foi observado que não houve muita diferença entre os grupos. Inclusive, os adultos bebiam mais do que os adolescentes.

Então, no momento em que os animais já tinham tido bastante contato com o álcool foi aplicado um procedimento que é chamado de efeito da privação do álcool. Isso foi feito porque, as vezes, quando o etanol está disponível, eles não se motivam tanto a consumir porque sabem que ele está lá. “Já na privação você tem efeitos neuroadaptativos em resposta à exposição prolongada a droga”, explica Rosana. Quando você expõe o animal à droga, depois da privação, é possível medir a fissura dele pelo estímulo. No experimento, o período de privação foi de sete dias e na reexposição foi observado que os adolescentes consumiram, progressivamente, mais álcool, atingindo níveis semelhantes aos dos adultos.

No entanto, havia um questionamento se o roedor estava consumindo pelo gosto ou pelo efeito do álcool. Para entender isso, a solução de etanol foi alterada, adicionaram nela o quinino, uma substância amarga. Mesmo assim o consumo continuou o que mostra que os camundongos gostavam do efeito. O resultado foi de que os animais tratados com etanol previamente, de forma involuntária – por injeções –, aumentaram o consumo da droga depois da privação, comparados com aqueles expostos à salina. Isso mostra que o tratamento prévio foi importante para induzir neuroadaptações.

Em um segundo experimento, os animais adolescentes e adultos foram tratados como descrito acima. Depois de um período de privação, foram expostos a outro aparato para medir recompensa que é o da preferência condicionada de lugar. De acordo com estímulos táteis, o animal faz escolhas. Então, por exemplo, quando é injetado etanol no roedor, ele é colocado em um compartimento com piso de grade e quando é tratado com salina, em um piso de barra. Ele associa o piso com as substâncias e depois de um tempo, com os efeitos dela. Esse tipo de aparelho é usado para medir os efeitos recompensadores ou aversivos de uma droga. Isso porque depois desse condicionamento, quando ele não é exposto a nada, ele vai para o piso que remete aos efeitos da droga que ele preferiu. A preferência é medida pelo tempo que eles ficam em cada lugar.

O experimento mostrou que os adolescentes pré-tratados com salina ficaram igualmente nos dois pisos e os adultos preferiram o compartimento do etanol. Os adolescentes previamente expostos ao etanol também preferiram o piso que remete a essa substância. Já os adultos tratados com álcool não apresentaram preferência pelo compartimento associado à droga. Isso sugere que a experiência prévia com a droga pode ter induzido um efeito de tolerância ao efeito recompensador nos adultos, mas não nos adolescentes.

Com os procedimentos, o que se conclui é que os animais adolescentes são menos sensíveis ao fenômeno de sensibilização. A sensibilização é usada como um marcador de neuroadaptações no cérebro que marcam a transição do gostar para o querer. Nesta etapa da dependência, os indíviduos “querem” a droga, independente de gostarem dela, porque a droga se torna cada vez mais atraente. Para atingir esse estágio, o adolescente precisa de uma dose maior. Isso implica no animal consumir mais droga para atingir seus efeitos prazerosos. Na adolescência, são necessárias doses altas para que o indivíduo tenha uma sensação de prazer. Isso pode explicar o fato de filhos de alcoólatras representarem um grupo de risco, pois além deles representarem uma sensibilidade menor aos efeitos de sensibilização induzido pela droga, devido a idade e assim, terem que consumir altas doses para atingir o efeito, eles tem a herança genética de consumo.

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