São Paulo (AUN - USP) - Há pouco mais de 10 anos é realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS, do inglês Deep Brain Stimulation). O procedimento consiste na implantação de dois eletrodos em regiões estratégicas e decisivas do cérebro que estimula, por corrente contínua, essas regiões, para que ocorra a diminuição de complicações motoras em pacientes que sofrem do mal de Parkinson.
A cirurgia é indicada apenas para uma parcela de pacientes parkinsonianos. Cerca de 0,5% da população brasileira sofre desse mal. Entre eles, apenas 10% é candidato a esse tipo de procedimento. Segundo a neurologista clínica Rachael Brant, quatro sintomas são considerados cardinais da doença: lentidão de movimento, chamado de bradicinesia, rigidez muscular, tremor de repouso e a falta de estabilidade postural.
Em sua fase inicial, a doença é bem controlada com remédios. Porém, com o passar do tempo, o Parkinson e a própria medicação podem trazer complicações motoras como movimentos involuntários, chamado de discinesia. Depois de um longo período de medicamento, o paciente passa a não responder mais aos seus efeitos, sofrendo graves conseqüências. Pacientes com discinesias e não-respostas à medicação fazem parte do perfil indicado à cirurgia. Além disso, parkinsonianos com comprometimento cognitivo não podem se submeter a esse procedimento.
A DBS não busca a cura da doença, mas sim o controle dos sintomas. Sua intenção é obter um efeito similar ao melhor estágio do remédio no paciente, sem os efeitos colaterais da medicação e com uma duração de anos.
Rachael explica que após se submeter ao implante dos eletrodos e de um marca-passo que controla toda a atividade da corrente contínua, o paciente precisa de acompanhamentos médicos e de fonoaudiologia e fisioterapia. Cerca de 86% tiveram redução da dose de medicação utilizada. A cirurgia DBS exige uma estrutura com uma equipe grande de profissionais bem qualificados. Por esse motivo, ainda é cara no país. Mesmo assim, a neurologista explica que trata-se de um procedimento em crescimento.
Elizete Silva, de 59 anos, fez a cirurgia há dois anos e conta que hoje sua vida é outra. “Não conseguia fazer nada sozinha, era completamente dependente de ajuda. Caía a cada passo dado e já não conseguia falar bem. Hoje sou outra. Ando, faço com frequência os tratamentos no ambulatório e me comunico. Nasci de novo”.