ISSN 2359-5191

20/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 137 - Educação - Instituto de Psicologia
Formação não prepara o médico para o trauma da morte de um paciente

São Paulo (AUN - USP) - Perder um paciente não é fácil. E se torna ainda mais difícil quando não se é preparado psicologicamente para isso. Pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP analisou o comportamento de médicos com pacientes oncológicos sem possibilidade de cura e atestou que eles não estão preparados para a possível morte de seus pacientes. “Há uma falha na formação do profissional. O respaldo psicológico é uma lacuna que não é preenchida”, diz Candido Jeronimo Flauzino, autor do trabalho.

O médico consegue tratar o paciente até as horas finais, mas não consegue lidar com iminência de sua sua morte. A pesquisa se baseou em entrevistas com médicos, que responderam a uma pergunta única: O que significa para você cuidar do paciente oncológico, sem possibilidade de cura, que vivencia o seu processo de morrer, e posteriormente perdê-lo? As respostas eram evasivas e generalistas.

Dentre as respostas estavam “ele pode eventualmente morrer” ou “isso não é comum”, respostas inesperadas considerando-se que os pacientes em questão não têm cura. “As respostas eram negação pura. O médico não consegue lidar com isso, então tenta tirar de si a fantasia de que o paciente vai morrer.”

A morte sendo tratada como um acaso é preocupante do ponto de vista psicológico, pois mostra que ali está um ser humano que não consegue lidar com uma questão estritamente humana que é a finitude de outros seres humanos com os quais ele está lidando. Para Flauzino, isso acontece porque os estudantes ficam muito tempo estudando pelas anatômicas em laboratórios, sem nenhuma perspectiva realista e, de repente, são levados para a residência onde tem de lidar com problemas reais de pessoas reais. Como não houve um respaldo psicológico durante sua formação de base no que diz respeito ao cuidado humano, o médico iniciante fica vulnerável em relação às questões humanas e acabam desenvolvendo mecanismos de negação e defesas.

A ideia para o trabalho surgiu durante a atuação de Flauzino no hospital em que trabalhava. Lá ele começou a perceber a dificuldade dos médicos em trabalhar quando o paciente aproximava-se da morte. “Eu percebia que, quando eles achavam que o paciente ia morrer logo, eles nem se aproximavam. Preferiam se manter distantes para não criar um vínculo”, aponta.

Questão cultural Segundo ele, faz parte da nossa cultura ter dificuldade em lidar com o fim da vida. Isso exige que essas questões sejam trabalhadas nas formações profissionais e não apenas as questões técnicas e de procedimentos, como acontece ainda hoje.

Para o pesquisador, a formação em medicina tem de ser repensada. É preciso que se trabalhe as questões da morte, do morrer e do luto profissional. “Eu não posso me preparar para a morte do outro, mas eu posso me preparar para o que a morte do outro invoca em mim.”Isso pode ser feito por meio do compartilhamento de experiências e emoções entre profissionais, que fazem com que as pessoas reflitam sobre si mesmas e passem a se conhecer mais e lidarem de forma mais saudáveis com questões tão humanas como a vida e a morte.

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