ISSN 2359-5191

21/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 138 - Arte e Cultura - Faculdade de Educação
A aproximação entre arte e vida a partir de ambientações clínicas e estéticas da existência é tema de tese na FE

São Paulo (AUN - USP) - Buscando uma fusão entre arte e vida e partindo de uma perspectiva interdisciplinar, de modo a articular conexões entre os ambientes clínicos e uma estética da existência, Daniela Figueiredo Canguçu, orientada pelo professor Celso Fernando Favaretto da Faculdade de Educação (FE) da USP, concluiu em outubro deste ano a pesquisa Arte e vida: ambientações clínicas e estéticas da existência. Na tentativa de articular teoria e conceitos à dimensão do acontecimento e da experiência, Daniela procurou privilegiar o encontro circunstancial entre campos teóricos distintos. Deste modo, seu trabalho apostou na aproximação entre arte e vida, na qual proposições dadaístas e surrealistas tiveram contribuições significativas, uma vez que suas atmosferas insistem na arte não apartada da vida.

O método que embasou a pesquisa foi a narrativa, principalmente no que diz respeito às práticas clínicas, que foram tratadas como ambientações. “Com inspiração em autores da psicanálise, da filosofia, das artes e da literatura, para este trabalho alguns autores tornaram-se pontos de apoio frequentes – Freud, Lacan, Guattari, Foucault, Benjamin e Lyotard, além de artistas e escritores”, comenta Daniela. No entanto, a autora da pesquisa atenta para o fato de que foram priorizados comportamentos, gestos e atitudes em detrimento das obras. “Por se tratar de um trabalho de luta de si consigo mesmo, seria prudente pensar que a estética da existência não pode se limitar à obra acabada, mas à vida interminada [que ainda não chegou ao fim]”, completa.

O ponto de partida da pesquisa foram as inquietações oriundas do exercício da clínica com aqueles que se encontram tomados por intenso sofrimento psíquico. Sujeitas a ambientações diferentes, algumas narrativas produzidas acabam adquirindo sentido, não pelo que possuem de interessante, mas pela sutileza que marca a experiência que abrangem. Outras experiências com a noção ambiental que puderam ser concebidas dentro do trabalho desta pesquisa encontram-se no âmbito da clínica psicanalítica. “A expressão ‘psicanálise sem divã’ passou a ser comumente referida para situar trabalhos clínicos realizados por profissionais que tomam a psicanálise como um referencial, levando em consideração a sua técnica e a sua ética e que, contudo, ocorrem em situações não idênticas ao seu exercício clássico”, afirma Daniela.

De acordo com ela, a aproximação entre arte e vida foi o eixo que atravessou e recodificou a experiência em um conjunto de relatos, de forma a torná-los passíveis de configurar sua pesquisa. Estes exercícios caracterizaram-se, de modo geral, por se darem através de processos artísticos em que o corpo emerge como temática principal. “Isto permitiu a esta pesquisa produzir-se num agenciamento que elege o corpo como critério para a proposição de seus questionamentos, em algumas de suas distintas e, por vezes, entrecruzadas incidências: na clínica e na arte, na performance e na dança”, declara a pesquisadora. Portanto, para esta investigação fez-se necessário um trânsito por elementos nestas diferentes áreas de experimentação prática e de produção conceitual que contribuíram para um encontro entre as artes e a clínica suficientemente producente.

Do ponto de vista do artista
Em relação ao artista, pode-se dizer que processo de criação é mais relevante do que a obra acabada. “De um lado, há aquilo que não se deixa representar que, em Freud e Lacan, relaciona-se à pulsão; e de outro, segundo Foucault, há aquilo que escapa ao imperativo da obra”, explica Daniela. Assim, como ocorre nos sintomas e nos sonhos, a criação artística para a psicanálise é uma modalidade de resposta às exigências pulsionais. Desta forma, o artista é alguém marcado e movido pela insatisfação, ou seja, é aquele que está inquieto, e age ao ser interrompido por algo. “Outro aspecto, relacionado à escolha de se privilegiar a pulsão neste estudo, diz respeito à hipótese de que é originária do corpo e, assim, serve para pensar muito da produção artística contemporânea, no eixo da aproximação de arte e vida”, acrescenta.

A compreensão que se pretendeu na pesquisa foi articular que o trabalho do artista vincula-se ao domínio das pulsões, algo que não cessa e não para de não se inscrever. “Esta impossibilidade de inscrição diz respeito ao que Lacan destaca como vaivém da pulsão, concernente ao caráter circular do percurso pulsional que, por sua vez, é consequência de sua impossibilidade de satisfação plena e, que, por isso mesmo, busca satisfazer-se de forma imperativa.”

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