ISSN 2359-5191

22/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 139 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Estudo do ICB cria cenário da febre maculosa em regiões do Rio de Janeiro

São Paulo (AUN - USP) - A febre maculosa brasileira (FMB) causada por riquétsias do Grupo da Febre Maculosa (RGFM) tem diversos óbitos registrados no país. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a letalidade da doença é alta. Foi por isso que Nicole Oliveira de Moura desenvolveu sua dissertação de mestrado intitulada “Detecção e caracterização molecular de riquétsias em potenciais vetores procedentes de focos ativos de febre maculosa do Estado do Rio de Janeiro”. A pesquisa foi feita no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em parceria com o Laboratório de Referência Nacional de Vetores de Riquetsioses da Fiocruz e com as Secretarias Municipais e Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.

O objetivo principal do projeto foi identificar espécies de riquétsias detectadas nos ectoparasitas coletados. Esse estudo epidemiológico foi feito em algumas regiões do Rio de Janeiro: Noroeste fluminense (Porciúncula e Itaperuna), Serrana (Trajano de Moraes e São José do Vale do Rio Preto) e Médio Paraíba (Barra do Piraí, Piraí e Volta Redonda).

A primeira etapa foi a de coleta do material e ocorreu de setembro de 2008 a novembro de 2009. Após as Secretarias de Saúde notificarem casos suspeitos, compatíveis e confirmados de febre maculosa nessas regiões, uma equipe ia até o local para coletar os ectoparasitas. Na maioria dos casos eram carrapatos e pulgas, e eles foram retirados de animais como cães, gatos, bois e cavalos, além do ambiente de provável infecção. “O grupo tentava ir o quanto antes no local, o mais próximo possível da notificação do caso para ter menos alterações no ambiente”, conta Nicole.

Foram coletados 2.076 ectoparasitas que depois de identificados foram reunidos em grupos de acordo com suas características, o que constituiu 301 amostras. Em seguida, foi aplicada a metodologia molecular em que os DNAs do vetor e da riquétsia – caso o vetor esteja infectado – são extraídos e analisados. Pela sequência do DNA é feita a identificação das espécies de riquétsias.

Análise das amostras
Pela análise do DNA das 301 amostras se concluiu que 16 eram do gênero Rickettsia. Destas, 15 tinham o gene da Riquétsia do Grupo da Febre Maculosa (RGFM). Além disso, pela primeira vez foi registrada a presença de riquétsias nas cidades de São José do Vale do Rio Preto, Trajano de Moraes, Volta Redonda, Porciúncula e Itaperuna. Esses dados mostram a ampla distribuição geográfica dessa bactéria do Rio de Janeiro.

Outra questão importante foi a detecção de RGFM em A. cajennense – carrapato estrela – nas três regiões estudadas, o que indica a importância desse vetor na disseminação da doença. “Sugere também a atuação dele como principal vetor do ciclo epidêmico da febre maculosa nessas áreas de coleta no Rio de Janeiro”, explica Nicole. Riquétsias do grupo Febre Maculosa também foram encontradas e identificadas em uma espécie de pulga e de carrapato – C. canis e A. dubitatum, respectivamente – até então não relatadas como potenciais vetores da febre maculosa.

Mapeamento da doença
Para Nicole, a identificação do DNA foi muito importante por ser uma metodologia bem específica. “Conseguindo identificar quais são as espécies de carrapato, quais são as espécies de hospedeiro, quais as espécies de riquétsia e quais as localidades é que a gente consegue ter uma ideia da epidemiologia da doença, e buscar aplicação posterior de medidas de prevenção”, explica a pesquisadora.

A pesquisa buscou compreender o cenário da febre maculosa em algumas regiões do Rio de Janeiro. Para Nicole, isso será mais bem desenvolvido quando, no futuro, seu trabalho se relacionar com outros sobre a doença no estado, pois cada um se aprofunda em determinado aspecto. No entanto, a doença ainda é pouco estudada por estar mais presentes em regiões rurais, muitas vezes negligenciadas pelo governo. A situação é agravada pela dificuldade no diagnóstico precoce. “Os sintomas febre, dor no corpo, dor de cabeça, dores abdominais são semelhantes aos de muitas doenças como, por exemplo, a dengue e meningite. Então, os médicos acabam tratando como outra doença”, conta Nicole.

Por isso, para prevenir e combater a febre maculosa é importante mapear a doença e entender quais as espécies envolvidas no ciclo de cada município. Além disso, o ideal é que as áreas de risco sejam demarcadas e assim, ocorra a notificação e treinamento com as pessoas desses locais. Nas regiões estudadas por Nicole já foi feito um relatório pelo Laboratório da Fiocruz que comunica os resultados para as Secretarias de Saúde para que providências como treinamento de médicos e de moradores possam ser tomadas.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br