Surdez total ou parcial, despigmentação da pele, maior espaço interno entre os olhos, hipopigmentação da íris e também, em poucos casos, atraso mental. Em meio a características díspares e aparentemente distantes, a pesquisa acerca da Síndrome de Waardenburg soma esforços na compreensão do genoma humano na Universidade de São Paulo. Com o auxílio de sofisticados computadores capazes de vasculhar as sequências do DNA, Magnolia Pretell orienta sua tese de mestrado com o estudo genético e molecular dessa síndrome no Laboratório de Genética Médica do Instituto de Biociências.
Descrita pela primeira vez em 1951 cientista homônimo, Waardenburg é uma síndrome genética, ou seja, com a modificação de apenas um ou alguns genes, vários sintomas são desencadeados. No caso dessa síndrome, as mutações podem ocorrer em quatro genes distintos, que caracterizam quatro diferentes tipos da doença. “Na verdade, cada gene tem um próprio locus em um cromossomo totalmente diferente, mas que começam a interatuar na formação do zigoto”, explica Magnolia, que estuda com maior ênfase o gene PAX3, responsável pelo tipo I da doença. Mesmo que os genes estejam localizados em cromossomos distintos, os sintomas manifestados em cada tipo são convergentes, destacando-se a surdez como principal.
Nos primeiros estágios depois da fecundação, esses genes atuam na diferenciação celular, expressando proteínas que tem papel comunicativo na migração das células para seus respectivos locais de atuação. Na Síndrome de Waardenburg, essa função é prejudicada, afetando principalmente tanto células de pigmentação quanto células nervosas responsáveis pelos sentidos. Além de dominantes, estes genes são tão necessários para o embrião que quando em homozigose, ou seja, na presença de dois alelos alterados, o embrião não sobrevive. Dada a importância destes genes no desenvolvimento embrionário, o estudo dessa síndrome é orientado pelo entendimento dos primeiros estágios da formação de organismo.
A Síndrome de Waardenburg tem penetrância incompleta, com aproximadamente 80% de chances dos portadores dos genes modificados manifestarem a doença. Além disso, a pesquisadora afirma que os sintomas são muito variáveis, pois “nem todos apresentam todas as características iguais: um indivíduo pode ter só os olhos azuis e surdez, outro pode ter uma mancha branca no cabelo na parte frontal e manchas na pele”. A doença não possui maior frequência em etnias ou povos em particular, portanto, é muito imprevisível também em sua incidência populacional, de aproximadamente 1 a cada 40 mil indivíduos. Comparada com a Síndrome de Down, por exemplo, que afeta 1 a cada mil indivíduos, não é tão comum.
Parte das pesquisas do Laboratório de Genética Médica do Instituto de Biociências, o trabalho de Magnolia é vinculado também ao Centro de Estudos do Genoma Humano. Como as manifestações de Waardenburg são imprevisíveis, o papel clínico do Centro é analisar o material genético e diagnosticar os pacientes encaminhados, proporcionando aos pesquisadores a chance de conhecer melhor o funcionamento do genoma em condições adversas. Para estes pacientes, é oferecido o serviço de aconselhamento genético, a fim de proporcionar melhor planejamento familiar.