Em comemoração ao Dia Mundial da Saúde, a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo recebeu a professora Lynn Silver, atual secretária de Saúde da cidade de Sonoma, no estado da Califórnia e que, entre 2004 e 2010, foi responsável pela implementação de um programa de controle de doenças crônicas em Nova York. No evento, a convidada tratou de suas experiências com políticas públicas na cidade, abordando desde ambientes promotores da alimentação saudável ao controle do tabagismo.

Após apresentar um histórico de doenças e fatores de risco da cidade americana, desde o século 19 até os dias de hoje, a professora tratou de um dos tópicos principais para a questão debatida: os alimentos. "No momento realmente estamos em uma encruzilhada. Temos que decidir qual o mercado alimentar que queremos", pontuou, contrapondo a alimentação saudável às redes de fast-food e aos alimentos industrializados de alto teor calórico.

Além da questão da escolha alimentar, ela tratou de diversos fatores que resultaram em uma epidemia de obesidade e, por consequência, de diabetes. "Os piores alimentos hoje são altamente processados, baratos, carregados com caloria, sal, açúcar e gordura, servidos em porções excessivas e agressivamente promovidos. Então é uma luta comer bem", disse, apresentando em seguida uma pesquisa sobre a grande presença de alimentos em lojas não-alimentares, como bancos, farmácias e livrarias.

Silver trouxe também as medidas tomadas pela cidade como resposta à situação, entre elas, a lei de rotulagem de calorias e a iniciativa nacional de redução do sal. Houve também uma forte campanha na mídia de massa, como tentativa de competir com a grande promoção de refrigerantes. "Realmente é muito difícil se contrapor à maciça comunicação da Coca-cola, da Pepsi e dessas companhias, mas estamos fazendo um esforço para pelo menos iniciar uma consciência pública maior das dificuldades nesse setor", disse, apresentando em seguida alguns dos resultados das medidas tomadas.

Vídeo de campanha feita pelo Departamento de Saúde de Nova York, veiculado na grande mídia

A secretária de Saúde falou brevemente sobre tabagismo, por ser um problema bastante grande. "Fumar ainda é a primeira causa de morte na cidade, mata mais nova-iorquinos que aids, drogas, homicídios e suicídios. Um em cada sete habitantes morre por uma doença relacionada ao tabaco", apontou. Por essa razão, a cidade tomou medidas midiáticas, ambientais e tributárias. "Até agora a estratégia mais eficaz para reduzir o consumo de tabaco é o imposto e a modificação do preço", afirmou após contar que hoje, um maço de cigarros na cidade de Nova York custa US$12 (aproximadamente R$24).

Segundo a professora, a grande limitação para todas as medidas tomadas é jurídica, já que a primeira emenda da Constituição americana não permite que se limite a liberdade de expressão, sendo, portanto, um empecilho para tentativas de impedir a propaganda de alimentos insalubres. Lynn Silver também afirmou que a prevenção de doenças crônicas não é necessariamente cara e enfatizou a necessidade do apoio dos mais altos níveis de governo. Assim sendo, ressaltou a importância do compromisso pessoal do prefeito Bloomberg com a saúde pública da cidade de Nova York, o que ajudou bastante para os resultados obtidos pelo programa de que era responsável. Ela encerrou citando o epidemiologista britânico, Geoffrey Rose: “É melhor estar saudável do que enfermo ou morto. Esse é o começo e o fim do único e real argumento para a medicina preventiva. Ele é suficiente”.