Entre os dias 9, 10 e 11 de abril, o Museu de Arte Contemporânea (MAC USP) da Cidade Universitária foi sede de um seminário internacional sobre o Modernismo na América Latina em diálogo com as produções italianas. Modernidade latina: os italianos e o centro do modernismo latino-americano foi um projeto elaborado pelo MAC e pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), em parceria com a Università degli Studi di Milano. As palestras foram gratuitas e abertas à comunidade, mediante inscrição.
Ponto de partida
O evento foi idealizado pela professora Ana Gonçalves Magalhães, do MAC, e pelo professor Paolo Rusconi, da Universidade de Milão. “A ideia de organizar o seminário nasceu um pouco da necessidade de tentar mapear qual é o estado das pesquisas sobre as relações Itália-Brasil no Entreguerras. E o quanto a experiência italiana está presente no Modernismo sul-americano e, principalmente, no Brasil”, contou Ana.
A professora ainda ressaltou que, para a montagem do seminário, o primeiro passo foi buscar parceiros, sobretudo na Itália. Rusconi é um dos exponentes do grupo de Milão que vem desenvolvendo trabalhos na área. “A colaboração entre mim e ele, a elaboração de um plano de trabalho, de um acordo de cooperação acadêmica, se fez com base nas relações de pesquisa que tínhamos, tanto eu aqui no Brasil, e ele na Itália.”, disse.
Ciclo de palestras
O primeiro dia de debates abordou temas como a política expansionista do fascismo por meio da arte na própria Itália e no Brasil, passou pelo processo de análise e catalogação do acervo do MAC – antes pertencente ao Museu de Arte Moderna (MAM) –, e pelo futurismo italiano. Os anos 30, o Novecento brasileiro, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e a temática dos críticos de arte da época, como os italianos Margherita Sarfatti e Lionello Venturi, foram assuntos que ganharam destaque no segundo dia do seminário.
Segundo João Fábio Bertonha, da Universidade Estadual de Maringá, o período Entreguerras foi um marco da efervescência do uso do soft power italiano em países latino-americanos. O termo usado pelo palestrante remete ao poder de influência indireta que a potência média exercia nos outros países. Isso se expressava por meio da exportação da cultura e da arte fascista.
Os resultados da política de influência italiana no Brasil, no universo artístico, podem ser evidenciados por meio da aquisição de obras pelo casal Francisco Matarazzo Sobrinho e Yolanda Penteado, intermediada por Margherita Sarfatti. Os quadros foram trazidos às terras brasileiras e doados ao MAM. Posteriormente, as coleções vieram a integrar o acervo do MAC e foram um dos enfoques do primeiro dia de palestras.
Já o casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi foi o centro dos debates do último dia. A discussão fala sobre a vinda do galerista e da arquiteta para o Brasil e abrange desde a transição de Bardi de jornalista para galerista, na Itália, até sua atuação fundamental para a difusão de exposições e mostras culturais no Brasil.
O casal Lina Bo e Pietro Maria Bardi
Em terras brasileiras, a aproximação de Bardi e Lina Bo com Assis Chateaubriand, empresário de comunicações, resultou na criação do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). O edifício foi projetado por Lina, que se inseria no contexto da arquitetura moderna. Bardi, como crítico de arte e galerista, o criou com o intuito de que o espaço fosse um museu de artes em geral. Por isso, ele investiu em cursos, exposições e conferências que pudessem retratar a arte como expressão atemporal da história humana.
Interdisciplinaridade
Modernidade latina. Os italianos e o centro do modernismo Latino-americano foi um seminário organizado com o intuito de reforçar a interdisciplinaridade dos temas tratados. A presença de especialistas de lugares diversos, como Itália, Argentina, Estados Unidos e Brasil garantiu a pluralidade e a riqueza de informações sobre o assunto. “Era interessante analisar esse contexto artístico cruzando os campos: a história da arquitetura, a história da arte, e assim por diante.”, ressaltou a professora responsável pelo evento, Ana Magalhães.
O seminário fez parte de uma série de ações empreendidas pelo MAC, em comemoração aos cinquenta anos de sua criação. Dentre elas, também está o curso Anos 1930 na Itália. As artes figurativas, as revistas e as exposições durante o fascismo, que faz parte do acordo de cooperação acadêmica com a Università degli Studi di Milano. As aulas acontecem do dia 16 ao dia 19 de abril, das 14h às 20h, e serão ministradas pelo professor Paolo Rusconi.