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16/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 6 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Graciliano Ramos é tema de discussões promovidas pelo IEB
No dia 20 de março, data em que se completaram 60 anos da morte do autor, IEB presta homenagem

No ano em que se completam 60 anos da morte do escritor alagoano, o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo organizou um evento em sua homenagem. O seminário Graciliano Ramos - Estilo e Permanência aconteceu no auditório de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Fernando Paixão, professor do IEB e um dos organizadores do evento, disse que ele tinha como objetivo a renovação do interesse pelo escritor.

O literato, que viveu 60 anos, deixou 18 livros, sendo 8 publicados postumamente. Ramos tem a sua obra classificada dentro da segunda fase do período modernista, momento em que se abordava a realidade brasileira, fazendo forte crítica social da situação de seca e miséria do Nordeste.

O seminário foi dividido em quatro momentos. Na terceira parte do evento do dia, “Estilo e Permanência - Visões Críticas”, três estudiosos da obra de Graciliano se reuniram e comentaram algumas das impressões tiradas por eles da trajetória do alagoano.

 

O amor que permeia a miséria

A fala de Luís Bueno, da Universidade Federal do Paraná, centrou-se na presença do amor no livro Vidas Secas. Ainda que o próprio Graciliano Ramos tenha dito em depoimento ao jornalista José Condé que o sentimento estava ausente na história, Bueno contraria essa preposição. Ele afirma que na obra mais famosa de Graciliano Ramos, haja a presença de um amor “diferente”.

“A originalidade de Vidas Secas nesse campo”, fala o professor, “está porventura menos na ausência de amor do que em contrariar o velho lugar-comum segundo o qual os amores felizes não tem história”. O livro, segundo Bueno, está ausente de “aventuras amorosas”, típicas dos contos de fadas e das comédias hollywoodianas, e do que de “ordinário se entende por amor”. O sentimento, contudo, pode ser localizado “nos meandros das experiências concretas”.

 

O mito trágico no romance moderno

O professor Hermenegildo Bastos, da Universidade de Brasília, falou sobre o livro São Bernardo. Para o acadêmico, o fascínio presente neste romance moderno se deve a estrutura de mito trágico que ela segue, centrando a unidade da sua narrativa na ação, e não no personagem. “Ele mesmo [Paulo Honório] diz ‘tenciono contar a minha história’. Logo no início [do livro] ele fala ‘o meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo’”.

Bastos afirma que o livro narra o apogeu e a decadência da fazenda, a passagem de Paulo Honório da Boa Fortuna para a Má Fortuna. E é essa passagem, a qual cumina com a decadência da personagem, que caracteriza o mito trágico grego.

Hermenegildo Bastos, Marcos Antonio de Morais, Elizabeth Ramos e Luis Bueno, integrantes da mesa
Hermenegildo Bastos, Marcos Antonio de Morais, Elizabeth Ramos e Luis Bueno, integrantes da mesa "Estilo e Permanência: visões críticas". (créditos: Odhara Caroline Rodrigues)

 

Cartas a um argentino

A última a falar foi Elizabeth Ramos, professora da Universidade Federal da Bahia que estuda as traduções, intersemióticas ou não, de Graciliano Ramos, e que também é neta do homenageado. Ela tratou sobre a correspondência do romancista com o editor argentino Benjamín de Garay, que tinha em vista a publicação dos títulos do alagoano no país vizinho.

Entre as primeiras correspondências, em 1936, de acordo com a estudiosa, estava “a clara importância que Graciliano dava a tradução da literatura como possibilidade da permanência da obra literária e da integração dos escritores da América Latina”.

A partir de maio de 1937, Graciliano passa a discutir com o editor argentino a publicação dos contos que viriam a compor a obra Vidas Secas, aparentemente sem grande sucesso. Depois da publicação de Vidas Secas no Brasil, já como um romance estruturado que fez questão de remeter a Garay, Graciliano Ramos volta a perseguir a publicação de São Bernardo. Contudo, esse projeto acabou frustrado por questões financeiras: o romancista alagoano se revoltou ao saber que receberia 200 pesos, enquanto seu amigo, Jorge Amado, havia lhe contado ter recebido da editora Claridad, com que estava negociando, 500 pesos por uma edição de Mar Morto, romance seu publicado em 1936, que ele reconhece valer mais que o seu, mas “que necessidade tinha o editor em aproximar dois romances e dizer que havia dado por um deles menos da metade da importância recebida pelo outro?”

Resultado: São Bernardo só foi publicado em língua espanhola em 1980, por uma editora de Caracas, Venezuela.

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Público presente no auditório de História da FFLCH para assistir ao Seminário "Graciliano Ramos: Estilo e Permanência". (créditos: Odhara Caroline Rodrigues)

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