O artigo é o principal meio de comunicação de novas descobertas da ciência, uma atividade coletiva, que depende do registro público de seus resultados para a construção do conhecimento. Na palestra “Preparo e publicação de artigos científicos”, a professora Carlota Yagui, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, apresentou o papel da publicação através do modelo atual, além de orientar sua confecção. A palestra foi realizada no Instituto Butantan pelo Fórum Científico, com o intuito de promover a discussão entre alunos, professores e pesquisadores sobre temas relacionados ao cotidiano acadêmico.

Conhecido também como paper, o artigo permite a referência dos dados obtidos em uma pesquisa por parte de outros especialistas na produção de novo conhecimento. A professora destaca que novas descobertas só são possíves a partir daquilo que já foi feito, uma vez que os apenas com uma base teórica que estudos mais refinados podem acontecer. “É necessário que seja oferecida a oportunidade de crítica e aperfeiçoamento dos dados que foram pressupostos cientificamente”, afirma.

Passo a passo da publicação

Antes da preparação do artigo, é necessário que o pesquisador esteja munido de todos os dados e resultados obtidos em seus experimentos, a fim de estabelecer um raciocínio bem embasado. Por ser o seu principal atrativo, o título deve ser deixado para ser escrito por último, recomenda Carlota, a fim de que funcione como um “resumo estruturado”. Relacionadas ao título, as palavras-chaves são essenciais para a facilitar da busca e otimizar da seleção de resultados por parte de outros pesquisadores da mesma área que procurem determinado assunto em específico.

Juntamente com o resumo, a introdução define o problema e deixa claro as razões pelas quais o experimento foi realizado, através de clareza e precisão. Na opinião da professora, é interessante que agregue não só contextualização do trabalho desenvolvido, mas também faça um levantamento bibliográfico da questão. Porém, alerta que as referências não podem formar uma “colcha de retalhos”, mas sim seguir um raciocínio coerente próprio do artigo.

A descrição precisa de uma metodologia é fundamental pois, segundo Carlota, seu objetivo é “fornecer informação para que outros pesquisadores consigam repetir o procedimento”. Ao garantir a reprodutibilidade técnica e experimental, o cientista demonstra todos os seus procedimentos que levaram ao resultado constatado. Além da descrição dos métodos e técnicas utilizadas no estudo, também faz parte da descrição de pesos e medidas em precisão e as respectivas unidades.

Feita a descrição dos procedimentos, o próximo passo são os resultados: tabelas, gráficos e estatísticas são utilizados para ilustrar o que foi observado e levar a conclusão posterior. Mesmo ao expor de forma objetiva tais constatações, a professora lembra a importância da discussão. Dentro do artigo, é um espaço subjetivo de argumentação e que necessita da sugestão de hipóteses para relacionar-se com a conclusão. Na ciência, uma conclusão sempre é um discurso provisório fundamentado em conhecimento empírico e é através de seu questionamento que o conhecimento é construído.

Preparado o artigo, a publicação depende de uma outra etapa que a revisão de pares. O editor do periódico seleciona então os pareceristas, que são especialistas na área temática do estudo, a fim de que estes emitão seu parecer. A publicação depende, em média, de 2 ou 3 pareceristas, que deverão julgar todos os aspectos que tornam aquele trabalho pertinente. Na maioria das vezes, os artigos são rejeitados, seja por falta de clareza na linguagem, seja por falta de dados ou metodologia precisa.

Importância

Até meados do século 17, a comunicação entre cientistas e outros estudiosos era feita através de cartas e livros. Como a informação demorava muito tempo para ser difundida, havia uma limitação de seu acesso. Da necessidade de uma comunicação mais eficaz, os primeiros periódicos científicos começaram a ser compilados para reunir as descobertas. Hoje, o artigo científico configura-se como o principal meio de comunicação entre a comunidade científica. “Se no passado a informação não chegava, hoje vemos uma quantidade excessiva de periódicos e extremamente especializados”, afirma Carlota, ao questionar a qualidade da informação disponibilizada em larga escala.

Publicações como as revistas Nature e Science são exemplos de periódicos importantes na divulgação científica e seus artigos alcançam grande influência em todo o mundo. A Science, por exemplo, não só reproduz os artigos originais, como também produz textos jornalísticos a respeito das descobertas anunciadas em suas páginas ou em seu portal online. Para a professora, a internet possibilita o acesso as fontes de informação tanto para o público leigo quanto para os especialistas, ao disponibilizar ferramentas como blogs e páginas em mídias sociais. “Além dos jornalistas escreverem e popularizarem a ciência, nós também podemos atuar levando-a à comunidade pela divulgação, pois é uma função nossa como pesquisadores.”