ISSN 2359-5191

06/12/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 25 - Saúde - Faculdade de Medicina
Olimpíada Pacote ajuda a reabilitar portadores de paralisia cerebral

São Paulo (AUN - USP) - A 26a Olimpíada Pacote (Paralisia Cerebral, Ortopedia e Traumatologia Esportiva) será realizada no próximo dia 12 de dezembro. É uma competição poliesportiva que reunirá cerca de 80 portadores de paralisia cerebral, com idades entre 6 e 30 anos, em tratamento no Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Os pacientes testarão todos os avanços feitos com a terapia esportiva, que freqüentaram semanalmente durante o ano, através de modalidades como corrida com revezamento, arremesso de “medicine ball” (bola pesada de uso ortopédico), basquete, handebol, queimada feminina e futsal masculino, divido em três categorias por idade.

De acordo com o ortopedista e médico do esporte João Gilberto Carazzato, que idealizou, criou e coordena até hoje a Olimpíada, a paralisia cerebral é uma síndrome de distúrbios da motricidade, não progressiva, que acarretam paralisias, fraquezas e incoordenação motora. Podem ocorrer também outras disfunções, como da fala, da audição, da visão, convulsões e déficit de inteligência. É causada por lesões no cérebro e cerebelo, que podem ocorrer antes, durante e depois do nascimento (até os 6 anos de idade). A maior parte dos casos - cerca de 70% - ocorre durante o parto, devido a nascimentos prematuros, cesarianas, partos demasiadamente rápidos ou lentos, ou por qualquer tipo de dificuldade na apresentação do bebê no momento de dar à luz. Em 20% dos casos, as lesões ocorrem anteriormente ao nascimento, por causa genética ou por problemas sofridos pela mãe, como doenças infecciosas (rubéola, por exemplo), insuficiência nutricional ou aborto tratado (quando se evita o aborto natural através de remédios). Nos 10% restantes, as causas são posteriores ao nascimento, devido a traumatismos cranianos e doenças como a meningite.

O Grupo de Paralisia Cerebral do IOT atende em média 150 pacientes por ano. Muitos dos que chegam lá, mal conseguem andar, às vezes por que têm medo de cair e se machucar. Durante a terapia esportiva, os pacientes fazem muitos exercícios respiratórios, atividades aeróbicas e anaeróbicas, ações corporais para melhora do equilíbrio e da postura e ganho de habilidades motoras, treinam reflexos e aprendem a amortecer quedas, evitando fraturas. Em alguns casos, são necessárias intervenções cirúrgicas para corrigir deformidades físicas. O tratamento visa a reabilitação destas pessoas, e algumas chegam a ser encaminhadas para oficinas de trabalho, onde desenvolvem atividades profissionalizantes. Todos os pacientes atendidos pelo IOT são muito pobres, e têm dificuldades para entrar no mercado de trabalho pois a síndrome é associada erroneamente com deficiência mental. Cerca de 70% dos portadores de paralisia cerebral têm déficit de inteligência, mas apenas 30% destes não são educáveis. 20% apresentam uma inteligência normal e 10% têm Q.I. (Quociente de Inteligência) acima de 100 pontos. Muitos deles, em face disto, chegam a dizer em entrevistas de emprego que sofrem de paralisia infantil, que só afeta os membros, para não serem discriminados.

Carazzato, antes de adentrar para a medicina, foi atleta e técnico. Chegou a ser campeão panamericano jogando pela seleção brasileira de voleibol, e foi técnico em diversas categorias. Já como médico do esporte, participou de três Olimpíadas e cinco Jogos Panamericanos. A idéia de praticar terapia esportiva com portadores de paralisia cerebral surgiu da necessidade de se ter maior acesso ao paciente, pois no consultório a avaliação era muito restrita. Levando-os para um lugar aberto, houve uma maior liberdade de ação para os pacientes, possibilitando a João Gilberto um melhor acesso psicológico a eles. Segundo o médico, os benefícios do tratamento são inúmeros, principalmente do ponto de vista psíquico: eles percebem que são mais capazes e se sentem mais autoconfiantes. Há também benefícios sociais, pois os pacientes discutem seus problemas uns com os outros e se ajudam; os pais também participam e conversam entre si. A Olimpíada, que encerra um ciclo de um ano do tratamento, segundo Carazzato, “é uma festa, em que todos ganham”.

A Olimpíada Pacote será realizada no ginásio da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, na rua Arthur de Azevedo, no 1, em Pinheiros, a partir das 08:30h, e o acesso é aberto ao público.

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