Em seu cinquentenário, o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) está planejando um conjunto de atividades comemorativas. Nesse contexto, o professor Jaime Tadeu Oliva disse ter surgido a oportunidade de se iniciar um projeto para sedimentar o IEB em seu papel de estudar o nosso país, e começar a se pensar o Brasil contemporâneo.
Por meio de entrevistas gravadas em vídeo, esse projeto se propõe a documentar vozes que possam dar uma visão do país. Inicialmente, a ideia era convidar os “principais intérpretes” do Brasil. “Fizemos inicialmente uma lista de personagens fortes do mundos acadêmico e cultural, que não podíamos deixar de ouvir, como Antônio Cândido e Ariano Suassuna, por exemplo. Pessoas com bagagem cultural, reconhecimento, e obras que, de uma certa maneira, procuram ser sintéticas a respeito do Brasil, especialistas em falar do país no seu conjunto”, explica o coordenador do projeto.
Com a estruturação da iniciativa, essa lista se ampliou e se tornou interdisciplinar e intercultural, ou seja, passou a abranger uma maior esfera de pontos de vista. Ela começou a incluir, por exemplo, acadêmicos que não sejam de humanas, como físicos e engenheiros.
A peculiariedade do projeto, contudo, não diz respeito apenas às personagens que estão sendo ouvidas. Como Pensar o Brasil Hoje se destaca pela abordagem que vem usando com os seus entrevistados. “Nós queremos fazer com que eles digam o que nunca disseram, fazê-los enfrentar assuntos que eles geralmente não enfrentam. O gênero entrevista foi escolhido por essa potencialidade, de conseguir manifestações incomuns das nossas personagens”, o professor expõe. Oliva comenta ainda sobre a importância de uma maior pluralidade na lista de entrevistados: “Essas vozes diferentes são muito importantes. Essas personagens contam no entendimento sobre o que é o Brasil, mas não são convidados a falar sobre isso. Se eu conversar com um físico que pensa o sistema energético brasileiro, ele também pensa a sociedade brasileiro, mas nunca é perguntado sobre ela”.
Até agora, o projeto já conta com oito entrevistas. Entre as personagens entrevistadas, estão Daniel Mundukuru, escritor indígena, João Paulo Stédile, membro da direção do MST, e o sociólogo Francisco de Oliveira, que faz parte da lista original. O professor Oliva conta uma história interessante sobre a entrevista com Oliveira: “Em certa altura da entrevista, ele foi inquirido sobre a questão ambiental. Ele disse ‘olha, eu tenho 80 anos, sempre pensei no Brasil, mas a minha geração nunca pensou nisso. Eu acho que é uma questão importante, mas não é o objeto de minha reflexão’. Ele tem um pensamento novo a respeito desse assunto, e nunca escreveu sobre isso. Mas agora há um registro, algo que só na entrevista surgiria, porque mesmo que ele considere a questão ambiental importante, ele não vai escrever sobre isso”.
As primeiras entrevistas foram gravadas em parceria com a TV Univesp, da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Agora, a parceria vai se ampliar: o Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CTR-ECA-USP) passará a se responsabilizar pela gravação das entrevistas. Há ainda a possibilidade de que elas passem a integrar a programação do IPTV, canal online da USP. A parceria se estruturará no segundo semestre.
Como Pensar o Brasil Hoje é coordenado por Oliva e produzido por Aline Khury, que o professor diz a “alma” da empreitada: “se ela for embora, o projeto acaba”.