ISSN 2359-5191

01/07/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 48 - Saúde - Instituto de Química
Medicamentos personalizados são nova arma no combate ao câncer

Pesquisa recente aponta para novas abordagens no tratamento de câncer. Inovadores, os medicamentos personalizados trazem novas perspectivas por serem mais eficazes e trazerem menos transtornos no processo de combate a essa doença. Fruto de cerca de oito anos de pesquisa, sua atuação é diferente dos atuais medicamentos quimioterápicos utilizados nesses tratamentos.

Historicamente, as descobertas em drogas eram feitas a partir de tentativa e erro, observando os resultados e efeitos causados por determinada substância quando aplicada no corpo humano. Esse tipo de procedimento, feito “às cegas”, vem sendo gradativamente substituído pela formulação de medicamentos personalizados, cuja natureza é estudada e testada anteriormente. Esses novos medicamentos atuam de forma mais específica, sem causar tantos danos ao paciente durante os tratamentos de câncer.

Com os avanços da tecnologia, foi possível identificar mais detalhadamente o funcionamento das células e as substâncias envolvidas em determinados processos, como a apoptose, processo de morte celular programada. Ao entender os mecanismos utilizados pelo corpo para determinar a morte de certas células, pôde-se extrair a essência para a destruição de células indesejáveis, como as do câncer. Os atuais medicamentos quimioterápicos possuem alvos celulares, já os personalizados possuem bons alvos prováveis em mutações e elementos de expressão aberrante.

O grupo de pesquisa estudou um mecanismo do corpo conhecido como cascata apoptótica. Esse processo utiliza a caspase, principal enzima atuante no processo de morte celular programada, que ao ser ativada, produz uma reação em cadeia que termina por destruir completamente a célula. Essa morte celular por apoptose é ativada pela procaspase 3, elemento que inicia essa cascata.

O desafio, portanto, era encontrar o elemento ativador da procaspase 3 e sua execução em células específicas do câncer. Após diversos testes e análises, foi encontrado o PAC 1, elemento capaz de ativar a procaspase 3. Foram realizados testes em amostras de câncer de cólon, tumores recém extraídos tiveram resultado positivo, diminuindo durante a aplicação do PAC 1 de modo proporcional. Em novos testes, utilizou-se a síntese do composto na forma fluorescente, para possibilitar a visualização do modo que ele atua e onde se infiltra para eliminar os tumores em cultura.

Os resultados positivos impulsionaram a aplicação em amostras vivas, camundongos com câncer de pulmão foram utilizados nessa fase da pesquisa. O tratamento foi eficaz, demonstrando a possibilidade de uso da substância. Os resultados finais eram visíveis ao comparar o tamanho inicial do tumor. Prosseguiu-se com a decomposição da molécula do composto para, assim, buscar que parte dele promove de fato essa ativação, encontrando o núcleo de todo esse processo.

Ao realizarem esses experimentos, notou-se a presença do zinco como agente nesse processo. O PAC 1 libera o elemento que inibe o composto que mantém a procaspase 3 inativa e, assim, o deixa livre para atuar na destruição da célula. Com o uso de sensores genéticos direcionados ao zinco, pôde-se verificar que ele estabelecia uma ligação com o composto, formando um anel. A descoberta só foi possível graças a sensores desenvolvidos e extremamente específicos utilizados para análise.

O potencial do PAC 1 em ratos sugere uma eficácia em diversos tipos de cânceres, até mesmo em tumores no sistema nervoso central. Para sua aplicação em seres vivos, a pesquisa desenvolveu o S-PAC 1, composto menos tóxico e mais seguro. Seguiu-se, desta forma, com a aplicação em cães com cânceres espontâneos. Segundo o pesquisador, “há várias similaridades entre humanos e cães no caso dessa doença”, o que aproxima a aplicabilidade do estudo a seres humanos. Por meio de aplicações contínuas de S-PAC 1, foi possível visualizar a diminuição do tumor. Sem tratamento, a morte desses animais seria prevista para quatro a seis semanas, pois o tumor dobra de tamanho. Outro fator aprimorado foi a forma de aplicação do composto, sua ingestão em cápsulas diminui significativamente a toxicidade por seu aumento gradual no organismo do paciente.

Outro resultado positivo foi a combinação do S-PAC 1 com outras drogas associadas em coquetel, que aumentou a efetividade e diminuiu a toxicidade. A pesquisa apresenta novos panoramas para esses tratamentos que, em geral, debilitam o paciente e causam efeitos colaterais. Desta forma, reduz-se a maioria dos sintomas de tratamentos quimioterápicos, já que a substância age estritamente nos alvos cancerígenos. O processo atual incide sobre a multiplicação celular e acaba por inibir a produção de outras células saudáveis como as do cabelo.

O projeto, em parceria com a Universidade de Illinois, criou também a empresa startup Vanquish Oncology, o que garante a continuidade das pesquisas e uma possível veiculação comercial do composto como medicamento. Com investimentos de cerca de US$ 4 milhões, o projeto pretende buscar formas de expandir as escalas de produção do PAC 1. Buca-se, também, a formulação de um coquetel ao agregar outras drogas para diminuir efeitos colaterais do uso prolongado, como uma toxicidade cardiovascular. Os resultados finais mostram um grande avanço na comparação com a quimioterapia, pois destroem-se somente as células necessárias, em uma ação direta no alvo.

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