ISSN 2359-5191

13/12/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 26 - Educação - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Programa educacional interativo melhora qualidade do leite e tem papel social

São Paulo (AUN - USP) - Um programa educativo ajuda a melhorar a qualidade do leite de pequenos produtores da região de Pirassununga, no interior de São Paulo. Segundo o autor da dissertação de mestrado Avaliação da qualidade do leite de produtores do município de Pirassununga submetidos a um programa educativo, o veterinário Alexandre de Azevedo Olival, a iniciativa deve ser difundida, para que a qualidade do leite melhore significativamente no País.

Olival estruturou um programa educativo participativo com objetivo de aprimorar a qualidade do leite produzido na região, já que grande parte era vendida pelos produtores diretamente à população. Ele levou em consideração a realidade dos fazendeiros e seu conhecimento sobre o assunto. O programa também tinha objetivos qualitativos, como o fortalecimento da comunidade.

O estudo, que mediu a eficiência do projeto educativo, foi apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP em novembro desse ano. Para realizá-lo, o veterinário selecionou uma comunidade com 13 pequenos produtores. Procurou um grupo de pessoas de baixa renda, que utilizassem baixo índice de modernização na ordenha e cujo leite fosse “ruim”, ou seja, com muitas bactérias.

Após seis meses de preparação, em que o pesquisador visitou as fazendas, analisou o leite produzido e fez entrevistas, iniciaram-se reuniões quinzenais. Nelas, eram discutidos os problemas da produção leiteira e como melhorá-los. “As reuniões despertaram os participantes para a importância de se produzir um leite de qualidade. Eles mesmos se empenharam em melhorar seu produto”.

Durante o período de um ano e meio em que foram realizados os encontros – de março de 2001 a julho de 2002 – amostras de leite eram coletadas mensalmente e entregues à Olival para análise. Nas reuniões, os avanços de cada produtor eram medidos. “Estabeleceu-se uma competição saudável para ver quem conseguia melhorar mais”, relata o veterinário.

Antes do programa educativo, os resultados da análise mostravam médias de até 25 milhões de bactérias por mililitro de leite. Segundo Olival, o índice torna o produto totalmente impróprio para o consumo. “Ao final do período, o número de bactérias diminuiu, em alguns casos, para dez mil por mililitro de leite, uma ótima medida, principalmente em uma produção pequena e com baixo índice de modernização”. O pesquisador explica que a melhoria da qualidade se dá principalmente devido à higiene pessoal. “As mudanças foram em relação ao hábito, não houve incrementos tecnológicos de elevado custo.” Dentre os cuidados que devem der tomados, está o de lavar as mãos e desinfetá-las. Também é recomendado limpar os estábulos antes de ordenhar e desinfetar a teta da vaca e os equipamentos utilizados.

A solução desinfetante pode ser de cloro, em concentração 2%, ou de iodo, a 0,5%. O produto pode ser comprado pronto ou feito em casa. “É importante ressaltar que a medida errada pode ser agressiva para a pele, prejudicando as mãos do produtor. E, se a concentração for muito baixa, o produto não será eficiente na limpeza”, diz Olival.

Mudanças qualitativas
Além de melhorar a qualidade do leite produzido, os fazendeiros experimentaram, segundo Olival, uma outra visão de seu trabalho. “Eles passaram de uma postura passiva e acuada em relação à atividade exercida por eles para um posicionamento ativo e crítico.”

Houve um fortalecimento da comunidade, que se demonstrou nas discussões coletivas dos problemas de cada produtor. As decisões foram tomadas em conjunto e as compras feitas em grupo. “O aumento da solidariedade entre eles foi nítido”, comenta o pesquisador.

Na opinião do veterinário, o programa é específico àquela comunidade de Pirassununga, mas seus passos podem ser aplicados em outros lugares. “Produção de leite é uma das atividades que mais emprega no País, direta ou indiretamente; por isso merece atenção especial.” No setor, ele cita que aproximadamente 10% dos produtores são responsáveis por 70% da produção leiteira, enquanto 90% produz 30% do leite comercializado.

Recentemente, o Ministério da Agricultura instituiu novos parâmetros para a qualidade do leite, o que, na opinião de Olival, farão surgir inúmeros cursos para a melhoria da qualidade do produto. “O governo deveria fiscalizar as instituições que pretendem lecionar o curso, no sentido de garantir uma verdadeira educação dos participantes, e não seu ‘treinamento’”.

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