ISSN 2359-5191

16/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 64 - Economia e Política - Instituto de Estudos Avançados
Possibilidade de invasão americana na Síria ganha espaço no Instituto de Estudos Avançados
Evento reuniu gama de Massimo Canevaccio, Renato Janine Ribeiro, Bernardo Sorj, Deisy Ventura e Pedro Dallari
Vítimas do ataque químico de 21 de agosto, ocorrido na Síria. Fonte: © EPA

O Instituto de Estudos Avançados (IEA) promoveu, em parceria com o Instituto de Relações Internacionais, uma roda de discussão sobre ética relacionada à resposta americana ao uso de armas químicas na Síria. O evento aconteceu no próprio Instituto, sob sugestão de Massimo Canevaccio - professor de Antropologia Cultural e de Arte e Culturas Digitais da Università degli Studi di Roma La Sapienza, na Itália, que é convidado na Universidade de São Paulo - e contou também com Renato Janine Ribeiro, filósofo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais (FFLCH), Bernardo Sorj, sociólogo e professor titular aposentado da UFRJ, e os juristas Pedro Dallari, que é vice-diretor do IRI, e Deisy Ventura, professora da mesma unidade.
A discussão foi importante pois tratou de um assunto geopolítico que ainda está em andamento: a ainda incerta intervenção de forças militares americanas na Síria, cujo governo tem sido acusado de utilizar armas químicas contra a própria população. A situação se agravou após do dia 21 de agosto, quando um ataque químico matou mais de 1,4 mil cidadãos sírios. A data de acontecimento do debate não foi escolhida ao acaso pelos organizadores. O 11 de setembro marca dois episódios que tem profunda relação com os Estados Unidos: o aniversário de 12 anos de ataque da Al Quaeda às Torres Gêmeas (World Trade Center) e o de 40 anos do golpe militar do Chile. O primeiro teve como consequência a invasão americana ao Afeganistão e, indiretamente, ao Iraque, ao passo que o segundo se deu na época em que o país apoiou as ditaduras da América Latina para proteger o continente do avanço socialista.
O debate circulou em torno de duas questões principais: ações políticas podem resolver conflitos internacionais, sem que a força seja usada? A ética pode ficar indiferente ao uso de armas químicas?
Canevaccio ressaltou o papel da Universidade em fomentar discussões do tipo, que não possuem soluções simples e que são extremamente interdisciplinares. Em sua fala, o professor questionou o pensamento sobre uma suposta ética universal. “Será que a ética precisa ter o mesmo tipo de valores nos Estados Unidos, Afeganistão, na Itália ou no Japão?”. Para ele, o conceito de ética do presidente Barack Obama está calcado na punição - “o governo sírio deve ser punido com mísseis e foguetes por usar armas contra o povo”. Ele problematizou também a ideia de um único Estado decidir se outro está ou não cometendo crimes contra a humanidade.
Já Deisy Ventura explicou que comportamentos extremistas da opinião pública, os quais categorizou como de inocência e de cinismo, não são suficientes para tentar explicar a situação. O primeiro parte daqueles que pensam que os países devem intervir militarmente em nome dos direitos humanos, o que não acontece pois que estes não o fazem em nome da liberdade ou da ética, mas como dispositivos de segurança, e o segundo, daqueles que acreditam que não é do interesse de países poderosos intervir no problema. Apresentar o caso sírio ao Tribunal Penal Internacional, pedindo para que os culpados fossem punidos, seria uma solução tomada pelo Conselho em que não há uso da força. Fatores como o longo período de crise da Síria, em conjunto com a omissão dos países ocidentais e a fragmentação dos grupos de oposição ao governo fizeram com que a guerra adquirisse outros contornos. Por isso, Deyse frisou que não há como encarar a situação de maneira maniqueísta, já que os Estados Unidos são grandes violadores do Direito Internacional e que não houve melhora nos locais que sofreram intervenção militar, que a jurista caracterizou como operações parciais, pontuais, de com danos enormes.
Ainda na linha de Deyse, o professor Bernardo Sorj também classificou como ingênuo o posicionamento de acreditar que valores e interesses não se misturam em um ataque bélico e chamou atenção para um novo tema: uma suposta crise da governancia internacional, já que a ONU não consegue resolver questões semelhantes da Síria e ainda não se acharam opções. O professor também acha equivocado concentrar o tema apenas à intervenção americana, sendo que países europeus, a Rússia e o Irã financiam a violência no país. Ainda na defensiva de Barack Obama, Sorj meritocratizou sua postura por não ter armado rebeldes e por ter levantado o debate sobre as armas químicas. Para ele, atitudes internacionais de diminuição dos custos do sofrimento, como ajuda humanitária, são mais importantes no caso.
O vice-diretor do IRI, Pedro Dallari, explicou um ponto muito importante para o entendimento do que acontece na Síria. A situação do país apresenta um contexto diferente do que se viu na Primavera Árabe. Apesar do objetivo inicial também ter sido político (a queda do governo ditatorial de Assad), há um elemento a mais: a diversidade étnica que existe na região e que não se dá no norte da África. Logo, uma intervenção violenta à Síria seria uma ação inócua, visto que a matriz do conflito é étnica. Para Pedro, a postura mais sensata seria uma aproximação entre a Rússia e os EUA para elaborar uma solução diplomática para o problema.
Já Renato lembrou que não há evidências de que o ataque de armas químicas foi feito pelo governo sírio e problematizou a questão de como lidar com um governo que não é democrático nos dias de hoje. O professor constatou que é difícil para países democráticos, como o Brasil, entender interesses coletivos e não individuais, já que o regime democrático presa pela liberdade do indivíduo, mas admitiu que o caso da Síria vai além disso, pois envolve a questão humanitária do direito a vida.

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