ISSN 2359-5191

19/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 66 - Meio Ambiente - Instituto Butantan
Instituto Butantan desenvolve centro de conservação para jararacas ameaçadas de extinção
Jararaca-ilhoa (Foto: Otavio Marques)

Pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan desenvolvem, há mais de uma década, um projeto que visa à implantação de um centro de conservação de espécies de serpentes endêmicas e ameaçadas de extinção.

Espécies de jararacas insulares, como a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) e a jararaca-de-alcatrazes (Bothrops alcatraz), nativas, respectivamente, das ilhas da Queimada Grande, em Itanhaém (SP), e dos Alcatrazes, em São Sebastião (SP), constam na lista de animais ameaçados de extinção da International Union for Conservation of Nature (IUCN) e carregam especificidades e venenos ainda poucos estudados, com grande potencial científico e farmacológico.

O projeto trabalha em três vertentes: pesquisa básica a respeito da ecologia das espécies, conservação ex situ (fora do lugar de origem) das mesmas, e educação ambiental e conscientização da comunidade em relação à importância das espécies ameaçadas para o ecossistema e para o desenvolvimento de pesquisas.

O objetivo, segundo Otavio Augusto Vuolo Marques, pesquisador do Instituto Butantan, é garantir a sobrevivência e a reprodução das serpentes em cativeiro: “Caso ela venha a ser extinta na natureza, a teremos salvaguardada ao menos em cativeiro, com possibilidade de reintrodução, a exemplo do que aconteceu com o mico-leão dourado”.

Espécies ameaçadas

As jararacas que habitam as ilhas do litoral sul de São Paulo são únicas e distinguem-se das continentais em diversos aspectos: as insulares apresentam coloração dourada e têm, na pele, nuances mais amareladas. Sua alimentação, devido à ausência de roedores nas ilhas, baseia-se em aves (caso da ilhoa) e pequenos invertebrados (caso da alcatraz). Os seus hábitos são mais arborícolas e sua taxa de natalidade, mais baixa. Além disso, graças ao isolamento, elas desenvolveram outras características biológicas próprias, como a aparição, nas fêmeas, de órgãos copuladores do macho (hemipênis). Todos esses fatores e particularidades constituem um rico campo para o desenvolvimento de estudos e pesquisas.

Porém, apesar de serem encontradas facilmente nas ilhas e apresentarem uma alta densidade populacional, indícios apontam que a população de ao menos uma das espécies tem diminuído: nos últimos doze anos, o número de jararacas-ilhoa teria caído quase pela metade, graças à captura ilegal e tráfico da serpente e a fatores ambientais.

O fato de serem encontradas apenas nessas ilhas também representa um risco para essas serpentes, já que elas ficam mais suscetíveis a desaparecer em caso de desastre ambiental. Por todos esses motivos, essas duas jararacas insulares foram incluídas na lista de animais em risco de extinção, e têm merecido atenção especial dos pesquisadores do Instituto Butantan.

Criação em cativeiro

O setor que abrigará o centro de conservação, localizado no próprio Instituto Butantan, deverá estar pronto em 2014. Por ora, as serpentes trazidas das ilhas são mantidas em laboratório. “No total, temos hoje 45 exemplares da jararaca-ilhoa aqui no Butantan, sendo que 20 foram trazidas da ilha em 2009”, afirma Selma Maria de Almeida Santos, também pesquisadora do Instituto e uma das responsáveis pelo projeto. “A ideia é que até o final do ano realizemos outra viagem para trazer também a jararaca-de-alcatrazes e, ano que vem, possamos colocá-las todas no centro de conservação que está sendo preparado”.

Ainda segundo Selma, o processo para a implantação de um centro de conservação passa por diversas etapas: desde os estudos do comportamento e das características das serpentes e de seu habitat natural até a preparação do cativeiro, para que este possa reproduzir condições similares à natureza e tornar mais fácil a adaptação das jararacas criadas ex situ.

Cuidados especiais

“A criação e a reprodução em cativeiro de muitas espécies costuma ser muito empírica, muito ‘tentativa e erro’. Porém, como estamos trabalhando com espécies de serpente muito preciosas, desenvolvemos métodos científicos para garantir a maior eficiência possível na reprodução e na manutenção dos exemplares”, explica Marques.

De fato, as jararacas-ilhoa criadas no Laboratório de Ecologia e Evolução passam por uma série de procedimentos científicos para que suas características reprodutivas possam ser estudadas: “Em 2011, começamos a realizar ultrassonografias em todas as fêmeas cativas, para verificar quais estavam com os folículos ovarianos propícios a ser fertilizados e para estudar seus hábitos de reprodução”, diz Selma. “Em 2012, passamos o enfoque aos machos: qual é a temperatura ideal para a maior motilidade dos espermatozoides? Qual a diferença entre os insulares e os continentais? Esses estudos podem até vir a constituir um banco de esperma, como mais uma alternativa para salvaguarda da espécie”.

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