ISSN 2359-5191

26/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 71 - Saúde - Instituto de Estudos Avançados
Mais Médicos levanta debate na USP
Adib Jatene, Claudia Colluci, Fernando de Castro Reinach, Mário César Scheffer e Paulo Hilário Saldiva fizeram parte de discussão no IEA
Ex- secretário da saúde, Adib Jatene, lança sua posição acerca do programa Mais Médicos. Foto: divulgação

No início deste mês aconteceu na USP o debate Mais Médicos, que foi promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA), e abordou questões relacionadas ao programa, de nome homônimo, implementado esse ano pelo governo Dilma Rousseff, cuja qualidade tem sido posta em dúvida principalmente pela comunidade médica. O evento contou com Adib Jatene, diretor Geral do Hospital do Coração (HCOR), Cláudia Collucci, repórter especial da Folha de São Paulo, especializada na área da saúde; Fernando de Castro Reinach, sócio da Fundo Pitanga, Mário César Scheffer, professor de Medicina Preventiva FM, e Paulo Hilário Saldiva, professor do de Patologia da FMUSP. A conversa girou em torno de três perguntas centrais: O Brasil precisa de mais médicos? Por que os médicos não vão para o interior e para as periferias? Para suprir uma emergência, vale a pena contratar médicos estrangeiros? De modo geral, foi consenso entre os palestrantes que faltam médicos no Brasil e que a distribuição desses profissionais é desigual no país. Outros pontos de concordância foram que a falta de um exame que avalie os médicos estrangeiros que chegam ao país é uma grande falha do programa e que devido ao aumento das faculdades de medicina pelo país, o número desses profissionais vai aumentar, mas precisa-se criar meios para avaliar a qualidade desses formados.

Adib Jatene contou um pouco de sua experiência com a população da periferia no final da ditadura militar e comparou com os dias de hoje. “Nós fizemos um desenvolvimento urbano absolutamente equivocado”, disse Jatene, referindo-se ao inchaço das áreas periféricas às grandes cidades e ao elevado número municípios com menos de 10 mil habitantes, que somam aproximadamente 52% no país. “Nós colocamos grandes massas de população morando onde os profissionais que ela necessita não aceitam morar. Por outro lado, nós criamos um grande número de municípios com menos de 10 mil habitantes.”

Mario Scheffer condenou posições polarizadas (contra ou favor) em relação a chegada dos médicos estrangeiros. “A questão é mais complicada. Para ele, o plano, em sua estrutura tem uma ideia interessante, mas o governo o lançou com uma linguagem de marketing ( e também eleitoreira, de que o plano iria salvar a saúde pública do país) e não a da saúde pública. Outro ponto destacado por Scheffer é que o programa subestima as demais profissões relacionadas a saúde, já que não os explora.

Fernando Reinach, questionou o uso de bolsa para pagar os médicos cubanos. O benefício está associado à educação e foi criado para financiar estudantes e pesquisas. Por isso, para fornecê-lo não há pagamento de impostos, aposentadoria ou certos direitos que profissionais concursados ou contratados pela CLT possuem. “É a primeira vez, que eu vejo, no Brasil que se usam as bolsas para pagar profissionais”, disse ele, que considerou isso um atropelamento nas relações trabalhistas normais. Quanto a questão dos médicos cubanos, o biólogo elogiou o programa do país de exportar médicos para outras partes do mundo, mas ressaltou que a vinda deles ao Brasil seria passageira, entre três e quatro anos, e que deveria haver melhoras na saúde no período que eles estão aqui para que, quando saíssem, uma solução efetiva se desse.

Paulo Saldiva classificou o programa como uma solução paliativa, que está sendo tomada no tempo político, o que leva, na prática, a distorções e perdas de oportunidades únicas de resolver problemas da saúde pública. O médico também comentou que a falta do exame de revalidação de diploma deixa implícito o pensamento de que o médico que atua em hospitais de ponta, como o Sírio Libanês, e o que atua em centros menos privilegiados não precisam ter a mesma qualidade de atendimento , o que o assusta. “O pessoal do andar de cima vive em um mundo onde não vivem os brasileiros”, disse ele, referindo-se aos políticos do alto escalão. Entretanto, Saldiva comentou também que a comunidade médica não pode dar as costas para o governo, pois se o fizerem, estariam falhando com o povo.

A colunista da Folha de S. Paulo, Cláudia Collucci, deu exemplos de planos semelhantes ao Mais Médicos que existem em outras partes do mundo, como Europa e Canadá, e destacou que todos eles possuem exame de revalidação de diploma. A mudança de espaço de trabalho mais atrativa - por exemplo, há auxílio à procura de emprego para os parceiros dos médicos. A jornalista também ressaltou que precisa-se dar mais importância a outros profissionais da saúde. “Onde faltam médicos, faltam outros profissionais”.

De acordo com Martin Grossman, diretor do IEA, o evento foi o primeiro de uma série que terá como foco a discussão da saúde pública do país, podendo se transformar em um núcleo de pesquisa do Instituto.

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