ISSN 2359-5191

18/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 100 - Saúde - Instituto de Estudos Avançados
Professor francês traz novos olhares sobre humanidades na área da saúde
Nicolas Lechopier acredita em um paciente engajado na ação médica, estando esta inserida na ética do cuidado
Nicolas Lechopier está há uma semana no Brasil. O filósofo acredita em um paciente engajado na ação de saúde para superar a crise da médicina. Foto: Divulgação

Uma mudança na relação atual paciente-médico e o que chama de ética do cuidado. Esses são os dois eixos principais dos estudos que Nicolas Lechopier, professor da Universidade de Lyon, na França, traz ao Brasil. O primeiro eixo consiste na existência de um paciente-pesquisador, engajado, e não apenas “o doente que precisa de cura”. O segundo eixo relaciona-se a investir mais na medicina preventiva, valendo-se da valorização das ciências humanas no tratamento. Professor convidado na USP pelo Instituto de Estudos Avançados, ele apresenta suas pesquisas relacionados à ética e à filosofia aplicadas na área da saúde em diversos eventos promovidos pelo instituto.

De acordo com Lechopier, muitas vezes as humanidades são utilizadas apenas como decoração do discurso médico, sem que haja efetividade do que é dito. Para o filósofo, as humanidades são importantes na área da saúde para que se conceba um profissional com um olhar crítico e reflexivo. “As coisas não tão evidentes, precisam de análise crítica e um bom profissional é aquele que sabe refletir sobre os limites de suas ações”, disse em entrevista para a AUN. Para chegar nos resultados de sua pesquisa, o professor fez análises empíricas (valeu-se de observações e entrevistas).

Fazendo uma analogia, o filósofo no campo da saúde deve possuir uma posição semelhante ao jornalista que acompanha operações de guerra, na lógica de Lechopier. No chamado Embbed Journalism, o jornalista está integrado na ação dos militares e o deve ser assim no caso do filósofo na área da saúde. Isso já aconteceu em algumas ações de saúde em locais em estado de calamidade, como no Haiti, Guatemala, no programa d Trauma and Global Health Program, e até mesmo no Brasil, no estado do Pará, com o projeto Poor Land Use, Poor Health. Nesses programas, atuou-se na prevenção e educação das populações atingidas.

Essas medidas estão de acordo com a lógica da ética do cuidado e são contrárias ao que acontece majoritariamente na área da saúde, que o professor denominou como uma “sociedade de risco”, que tem foco na cura e não, prevenção. “Nas faculdades de medicina, falta efetividade. As humanas são usadas apenas na parte oral”.

Para fortalecer a tese do paciente-pesquisador, Lechopier trouxe como exemplo a experimentação feita na Universidade de Montreal, que já existe há três anos e já foi apresentada no Congresso da Associação Mundial de Educação Médica. “A pesquisa prática na universidade de Montreal agrega o paciente na formação do médico”. Ela consiste em colocar em primeiro lugar a complementação de saberes entre os pacientes e as ciências biomédicas no estudo. Isso é feito através de aulas conjuntas, dadas do início até o fim da graduação dos médicos, e da integração do paciente à equipe de saúde, através de elaboração e fornecimento de dados para questionários, por exemplo. A presença do paciente é importante porque faz com que o médico não esqueça que este é um ser humano e possui um projeto de vida, que deve ser levado em conta no tratamento. A análise do projeto revelou um paciente pesquisador, parceiro de pesquisa, e uma inovação integrada em um movimento mundial, que envolve a participação deste no sistema de saúde.

Entretanto, Lechopier admite uma problemática relevante: o paciente precisa aprender como se portar e essa inclusão termina por deixar o tratamento mais demorado. “Hoje se vive uma crise na medicina. Com a crise da internet, o médico não tem mais a exclusividade do saber”. Muito do que o médico fazia antes, de acordo com Lechopier, o paciente pode fazer procurando informações na internet, o que seria uma crise na medicina. Dentro dessa lógica, o filosófo pontua uma diferença interessante entre ciência médica e saúde. “A saúde e a doença não pertencem ao médico, não são noções desenvolvidas pela ciência médica”. Por isso um paciente ativo é importante na médicina. “Não há ciência médica sem o ponto de vista do indivíduo. O paciente legitima o ponto de vista do não-médico”. Lechopier ressalta que o profissional da saúde tem a função de acompanhar e não ordernar, curar, o adoentado. Essa complementaridade de ações dos lados resolvem a crise elencada pelo professor.

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