O uso de anestésicos locais e anti-inflamatórios não esteroidais se mostrou como prevenção adequada ao aparecimento de dor crônica no caso de cesarianas, segundo pesquisa feita pela Faculdade de Medicina (FM) da USP. O estudo realizado pela médica anestesiologista Thaís Cançado buscou identificar os fatores de risco, além de propor alternativa de medicação, para evitar a ocorrência de dor crônica pós-operatória (DCPO). Apesar do diagnóstico visar cesarianas, essa dor também pode atingir pacientes que fizeram parto normal, como revela a pesquisadora.
Para uma dor ser classificada como DCPO é necessário que permaneça por mais de três meses após a cirurgia, mesmo depois da cicatrização. Em procedimentos cirúrgicos de grande porte, como amputações, os casos são mais frequentes, porém ainda não havia um estudo dirigido para cesarianas, as quais representam até 55% dos casos de dor crônica. De acordo com o Relatório do Ministério da Saúde (Datasus), anualmente, 52,2% dos partos realizados no Brasil são cesáreas, só em redes particulares esse índice chega a 90%. “Esses números colocam o Brasil como líder no ranking entre os países com maiores taxas de cesarianas no mundo”, relata a pesquisadora.
A coleta de dados da pesquisa foi feita em Campo Grande (MS) com uma amostra de 443 pacientes divididos em cinco grupos. Foram utilizadas doses diferentes de anestésicos locais e opioides, e em um grupo não se utilizou medicação anti-inflamatória. O estudo concluiu que a incidência da dor crônica foi maior em pacientes que receberam doses baixas de anestésicos - apesar da vantagem de não provocarem queda da pressão - e nos que não foram medicados com anti-inflamatórios no perioperatório.
Os fatores de risco diagnosticados também se apresentaram importantes na pesquisa, como o estado psicológico-emocional do paciente, sensibilidade e predisposição genética, os quais potencializam a ocorrência da dor. A duração das contrações do parto antes de se optar por cesárea também se apresentou bastante influente: “as pacientes que permaneceram por mais de 15 horas em trabalho de parto tiveram oito vezes mais chance de desenvolver dor do que aquelas que já foram direto para cesariana”, conta Thaís.
No corpo, sempre que existe uma lesão no nervos há uma liberação de várias substâncias que podem, se permanecerem no organismo, causar alterações maiores e com isso cronificar a dor. Na pesquisa, o uso do anti-inflamatório se mostrou como item importante para a prevenção da DCPO avaliada em três e seis meses após a cesariana.
Em alguns casos, a dor desaparece espontaneamente, no entanto a médica comenta que o tema ainda é novidade e não existem muitas pesquisas sobre dor crônica pós-cesariana, porém se torna essencial o acompanhamento do pós-operatório das pacientes. Para ela, é de suma primordialidade identificar o grupo de risco e usar a medicação adequada para prevenir, principalmente porque a dor crônica “interfere no dia a dia e na qualidade de vida da mãe depois do parto”.