Mais de 90% dos tipos de câncer que acometem a boca são derivados do tecido bucal (epitélio), o carcinoma epidermóide. Ele é dotado de características muito particulares e, na maioria dos casos, o paciente se apresenta em estágio avançado já no momento do diagnóstico, devido à escassa gama de possibilidades de conhecimento prévio da doença.
Diante desse quadro, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP vem mapeando a doença em busca de marcadores biológicos que ajudem a diagnosticar o carcinoma epidermóide mais cedo, além da previsão de comportamento do tumor e fornecimento de moléculas que ajudem em seu tratamento.
O foco da pesquisa tem sido nas alterações de RNA e DNA relacionadas com as neoplasias da boca, além de uma linha de estudos com células-tronco. O passo mais avançado é o estudo sobre os genes controladores do desenvolvimento, os homeobox. Eles atuam no topo de hierarquias genéticas, regulando aspectos essenciais da embriogênese (formação e desenvolvimento do embrião), morfogênese (desenvolvimento e modelagem dos organismos) e diferenciação celular (especialização da célula no organismo) e estão relacionados ao processo de carcinogênese (formação do câncer), sendo o principal candidato a marcador biológico.
O quadro de pacientes de câncer de boca hoje é muito variado, o que dificulta um mapeamento do tumor. Apesar de o fumo e o álcool serem os principais motivos para a doença, existem pacientes que fogem a esse padrão. “Tem câncer de boca em paciente que não fuma e não bebe, em gente muito jovem, abaixo dos 40 anos de idade, quando a taxa antigamente era muito mais comum na faixa de 50 e 60”, explica Fábio Daumas Nunes, coordenador do grupo.
O comportamento do câncer em diferentes grupos de pessoas é um dos pontos da investigação da pesquisa. Os marcadores também ajudarão a percorrer esse caminho do tumor e possibilitar novos avanços no tratamento e no desenvolvimento de medicamentos específicos. Segundo Daumas, “já foram identificamos alguns marcadores, como proteínas, alteração na expressão do RNA e modificações no DNA, mas eles ainda não estão totalmente validados por conta da grande variação nas características, mas já um avanço, pois o câncer de boca não possui nenhum até agora”.
Diagnóstico prévio
Por não ter indicadores precisos, é necessário que a população fique atenta a sintomas que podem gerar esse câncer, como úlcera que não cicatriza há mais de 15 dias ou lesões brancas que não regridem, além do autoexame. Segundo Daums, ainda é preciso que se intensifiquem as campanhas de conscientização para diagnostico. Para ele, as pessoas precisam ter consciência de que câncer é uma doença que tem cura se for diagnostica cedo. “A população ainda não esta suficientemente esclarecida sobre isso.
“Costumamos receber pacientes com doenças muito simples, mas que ficam com muito medo e acabam complicando a patologia”, alerta o professor.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece tratamento para o câncer de boca, porém não dispõe de toda a estrutura necessária para atender o paciente com a agilidade que precisa. “É um tratamento caro, com radioteparia. Infelizmente a fila é grande”, conta o professor.