São Paulo (AUN - USP) - A transmissão para humanos de um vÃrus eliminado em fezes de aves sendo uma das prováveis causas do recente surto de pneumonia asiática é a hipótese mais aceita pela virologista Terezinha Maria de Paiva, da Seção de VÃrus Respiratórios do Instituto Adolfo Lutz. Esse vÃrus teria surgido a partir de mutações em que parte de coronavÃrus proveniente de bovinos se une com parte de coronavÃrus proveniente de aves, nas quais causa bronquite.
A doença, que matou várias pessoas nos últimos dias em todo o mundo, ocorreria porque os indivÃduos não têm anticorpos para agentes etiológicos com morfologia viral originários de aves. Segundo Paiva, todo o reservatório de vÃrus da gripe está na Ãsia, mais especificamente na China. Nesse paÃs as pessoas mantêm uma relação de muita proximidade entre aves e suÃnos, o que possibilitaria maior transmissão de agentes entre esses seres.
Pesquisas para se tentar descobrir qual é o novo modelo de vÃrus que causa essa enfermidade estão sendo realizadas em todo o mundo. Estudos de diversos grupos apresentam resultados diferentes, mas isso não significa que uma pesquisa invalide outras. A pesquisadora enfatiza que tudo ainda é incerto e que qualquer uma das pesquisas pode se mostrar verdadeira com o avanço das análises.
A jornalista britânica internada no hospital Albert Einstein, em São Paulo, supostamente a primeira vÃtima da pneumonia asiática no Brasil, teve material nasal coletado para exame e as análises começaram no inÃcio deste mês no Instituto Adolfo Lutz. Os modos de disseminação da pneumonia asiática, também conhecida pela sigla inglesa Sars (sÃndrome respiratória aguda grave), ainda são ignorados, apesar de alguns pesquisadores acreditarem que seu contágio se dê apenas através de contato Ãntimo entre as pessoas. Como outras doenças de contaminação por via respiratória, não há modos de prevenir a proliferação dessa pneumonia.
A virologista afirma que qualquer vÃrus precisa de receptores especÃficos para se manifestar nas células e para barrá-los é necessário desvendar quais são esses mecanismos de recepção. Para ampliar as possibilidades de descobrir quais receptores são utilizados pelo vÃrus causador da Sars para se instalar em células humanas, as pesquisas feitas no Instituto são realizadas com células humanas e animais. A análise se dá por meio de um rastreamento através do protocolo normal de pesquisa (células que normalmente abrigariam esse tipo de vÃrus) e também com células que geralmente têm afinidade com vÃrus causadores de outros tipos de enfermidades.
A pesquisadora enfatiza que deve haver um cuidado maior por parte da comunidade médica no diagnóstico dessa doença, tanto para impedir pânico na população mundial quanto para evitar o manuseio incorreto de amostras supostamente contaminadas com esse vÃrus. Qualquer material que chega ao laboratório para análise é tratado com muito cuidado, mas devido ao desconhecimento sobre as caracterÃsticas desse vÃrus, deve-se tomar cuidados ainda maiores. Os médicos que suspeitarem dessa doença devem especificar no material de análise que se trata de Sars, da pneumonia asiática. Essa é uma das medidas para evitar que essa moléstia se dissemine totalmente antes que a ciência descubra como combatê-la.