ISSN 2359-5191

11/04/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 04 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Técnica para isolar anticorpo é nova esperança para imunodeficientes

São Paulo (AUN - USP) - Boa notícia para pacientes que sofrem de falta de anticorpos. Cristiane Barros Carbonare, bióloga que participou do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da USP, conseguiu isolar a imunoglobulina A (IgA), responsável pela defesa das mucosas do corpo. A técnica utiliza colostro e leite humanos para a obtenção da molécula, que servirá para tratar complicações gastro-intestinais.

Dois grandes grupos serão beneficiados pela descoberta. Um são os recém-nascidos prematuros e de baixo peso, que tendem a apresentar diarréias e são incapazes de sugar. Outro são pacientes que sofrem de imunodeficiência, principalmente as primárias, ou seja, congênitas, que geralmente atingem as crianças. Em São Paulo, por exemplo, uma em cada mil crianças apresenta deficiência da IgA, que causa diarréias graves. O tratamento também poderá ser utilizado por pacientes que têm imunodeficiências secundárias, aquelas que são conseqüência de outras doenças como o câncer ou Aids, de uso de remédios como cortisona ou de tratamentos fortes como a quimioterapia.

Até hoje, os pacientes que precisavam de reposição recebiam a gamaglobulina, retirada do soro humano, por via intravenosa. O problema é que esse tipo de anticorpo, que é o que existe na forma comercial, não tem ação eficiente para o tratamento de problemas nas mucosas porque não é específico para esse fim.

Outra forma de tratamento utilizada para amenizar o problema é a administração do colostro da vaca. Essa técnica funciona introduzindo-se o agente causador da doença no animal, que passa a produzir anticorpos que estarão presentes no colostro. O paciente recebe, então, essa substância na forma integral, e não somente os anticorpos de que precisa. Além disso, no colostro bovino predomina outro tipo de imunoglobulina, a IgG, o que não permite que esse tratamento seja eficaz.

Além do colostro e do leite, a IgA também é encontrada em outras secreções do corpo, como a saliva. Com a nova técnica, ela poderá ser administrada por via oral.

Uma das dificuldades do isolamento da imunoglobulina é que ela pode perder sua característica de anticorpo no processo. No entanto, os testes de funcionalidade realizados por Cristiane Carbonare demonstraram que isso não aconteceu.

Outro teste que tem de ser realizado é o de esterilidade. Para obter essa garantia, foram utilizados dois procedimentos de descontaminação: uma pasteurização a 62,5oC durante 30 minutos e uma pasteurização a 60oC durante 10 horas.

A esterilidade tem de ficar provada para bactérias, fungos e vírus. Para os dois primeiros, foram realizados testes em meio de cultura, que comprovaram a ausência desses contaminantes. Já os testes para vírus são mais complicados, e uma dificuldade de Cristiane é achar um laboratório farmacêutico no Brasil que faça essa validação. Apesar disso, segundo dados da literatura médica, a própria pasteurização já é suficiente para matar vírus. O da Aids, por exemplo, é desativado após uma pasteurização de 62,5 oC após dois minutos e 34 segundos.

Esses dois testes correspondem à validação necessária para que o produto possa ser lançado no mercado. Os estudos de Cristiane Carbonare foram realizados no Laboratório de Imunologia de Mucosas, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

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