Ao pensar na falta de estudos acerca os efeitos que o tabagismo pode gerar em jovens que não possuem sintomas, como alterações funcionais ou inflamatórias, Marina Lazzari Nicola fez uma pesquisa para investigar se nesses jovens tabagistas assintomáticos haveria alterações nas vias aéreas e se a quantidade de nicotina associada, apresentaria relação com alterações ou com a inflamação das vias aéreas. O estudo foi realizado no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP, onde os voluntários foram divididos inicialmente em dois grupos, fumantes e não fumantes, e posteriormente o grupo de jovens fumantes foi subdividido de acordo com a carga tabágica, que é medida a partir do cálculo usando o número de cigarros fumados por dia e o tempo, em anos, que o indivíduo fuma.
Em um primeiro momento, Marina conta que foi aplicado questionários de saúde geral e um outro específico para avaliar os sintomas de desconforto das vias aéreas. Após isso, foi avaliado a função pulmonar, o funcionamento das glândulas secretoras nasais, que são importantes mecanismos de defesa do sistema respiratório, e a inflamação das vias aéreas superiores e inferiores, que foram avaliadas por meio da coleta de fluidos biológicos, como o muco nasal, o lavado nasal e o condensado do ar exalado.
O objetivo do estudo é de comparar as alterações funcionais e inflamações nas vias aéreas que ocorrem em jovens fumantes assintomáticos, quando comparados aos jovens não fumante. Uma das especificidades analisadas é acerca o funcionamento das glândulas secretoras nasais em relação ao transporte mucociliar nasal acelerado. Este, é um mecanismo de defesa que remove o muco do nariz e seios paranasais, e, quando inflamados, como em casos de rinites, sinusites e irritações nasais, aumentam a produção do muco.
Portanto o transporte mucociliar nasal estar acelerado, pode ser considerado como forma de proteção em resposta ao tabagismo, em relação a fumaça inalada. Marina conta que foi observado uma “maior concentração de células inflamatórias no lavado nasal que pode ser considerada como uma resposta de reparo e/ou de proteção em resposta à exposição aos produtos do cigarro”.
A partir da análise do condensado do ar exalado, que contém biomarcadores de estresse oxidativo e de inflamação, é possível analisar as concentrações destes, que são influenciadas pelas doenças respiratórias e pelas intervenções terapêuticas. “Para avaliarmos a inflamação das vias aéreas inferiores utilizamos o pH do condensado do ar exalado. A faixa de valores de normalidade para este fluido em indivíduos não tabagistas [não fumantes] é de 7,80 a 8,20. Quando há valores inferiores, isso reflete a inflamação nas vias aéreas inferiores em resposta aos produtos do cigarro”, conta Marina.
A partir desses dados, foi concluído pelo estudo que a carga tabágica apresenta um efeito significativo sobre a redução dos valores do pH do condensado de ar exalado. Quanto maior o número de cigarros fumados por dia e o tempo, em anos, que o indivíduo fuma, também será maior a redução do pH, refletindo uma maior inflamação nas vias aéreas inferiores.
Dessa forma, Marina espera que “os resultados possam contribuir no entendimento dos efeitos precoces do tabagismo em jovens assim como auxiliar na fundamentação da cessação do tabagismo em jovens assintomáticos”.