ISSN 2359-5191

07/08/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 43 - Sociedade - Instituto de Pesquisas Energéticas
Pesquisador rebate imagem dada a fonte de energia nuclear
A cobertura feita pela mídia realizada de forma errada prejudica confiança na fonte energética
Ruínas dos efeitos do acidente de Chernobyl/Reprodução

O pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen), Roberto Vicente, questiona o tratamento dado pela mídia brasileira sobre questões nucleares. Ele também questiona as relações entre a radiação emitida pelo acidente de Chernobyl em 1986 e a forma em que ela afetou a população local divulgadas pela imprensa e órgãos oficiais da antiga União Soviética (URSS). Por esse motivo, Vicente planeja montar um grupo de estudo que visa analisar a cobertura feita pela mídia sobre assuntos nucleares.

Vicente diz que o acidente de Chernobyl causou uma Síndrome Aguda de Radiação em 200 pessoas que faziam parte das primeiras equipes que chegaram no local do acidente, sendo que cerca de 29 morreram de tal síndrome. As pessoas que não morreram da síndrome, com o passar do tempo foram morrendo, porém, as causas das mortes não estão relacionadas à radiação. "Por exemplo: uma pessoa morreu de ataque cardíaco, que não é efeito da radiação", exemplifica Vicente. Um exemplo de morte por conta da radiação é a leucemia, mas ela ocorre logo após da exposição.

Um dos argumentos utilizados por Vicente é o de que na época do acidente ocorreram aproximadamente quatro mil casos de câncer de tireóide, sendo que os casos que levaram ao óbito foi entre 20 a 30 pessoas - o câncer de tiróide tem 99% de chances de cura, se for tratado.

Para exemplificar essa má associação, Vicente diz que entre as pessoas que moravam na região e também entre as que fizeram parte das equipes de "limpeza" da área, não houve qualquer tipo de efeito radioativo no organismo delas, nem mesmo em seus descendentes. "Dentro dessa população, não se detectou qualquer aumento na incidência de câncer, leucemia, natimorto ou teratogênese (má formação congênita)", diz Vicente.

Ele ainda afirma que essas pessoas tem sido acompanhadas por médicos do mundo inteiro e muitos trabalhos na área de epidemiologia estão sendo feitos, porém, não houve sinalização no aumento dos casos descritos - a não ser o de câncer de tireóide, onde se vê uma clara associação de causa e efeito. "Para os outros os estudos são inconclusivos. Esses estudos são cautelosos em dizer que não houve aumeto; dizem que os resultados são inconclusivos. Ou seja, eles não enxergaram algum aumento"

Segundo o relatório "Reports of the Chernobyl Accident Consequences in Brazilian Newspaper", escrito por ele e Rosana Lágua de Oliveira, a cobertura dada ao acidente nuclear de Chernobyl pela mídia brasileira influenciou de maneira negativa a imagem da energia nuclear, mesmo que o uso dela seja para fins pacíficos, como a geração de energia elétrica pela população. "A percepção do público acerca dos riscos associados à energia nuclear foi profundamente influenciada pelos acidentes de Three Mile Island e Chernobyl, que também serviram para aumentar a crescente falta de confiança na 'indústria nuclear' nas últimas décadas", afirma Vicente.


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