A pedofilia é tema da tese de doutorado do pesquisador Herbert Rodrigues do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O sociólogo aborda os processos de construção e criminalização da pedofilia no Brasil, destacando os aspectos morais agregados ao problema. O doutorando explicita sua total aversão aos atos de pedofilia que analisa critica e sociologicamente, concluindo que a crescente preocupação sobre a infância e a pedofilia no país serve mais para proteger os valores morais burgueses que as crianças, já que os principais agressores são pouco ou nada atingidos.
A noção atual de pedofilia abarca diversas práticas envolvendo adultos e crianças sexualmente. Além do abuso sexual, a contemplação de imagens sensuais de menores de idade na internet, pornografia, prostituição e exploração sexual infantis são consideradas atos de pedofilia. Cientificamente, a pedofilia é definida como a atração sexual de um adulto por crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve a pedofilia como preferência sexual por crianças, enquanto que a psiquiatria a considera um transtorno mental.
Moralmente, a pedofilia é uma desumanidade e o pedófilo é um monstro que não consegue se adequar às normas sociais e naturais, pois “a noção de monstro humano é uma categoria jurídica por violar não apenas as leis da sociedade, mas principalmente por violar as leis da natureza.” A preocupação com a pedofilia é legítima e necessária para a proteção das crianças e do próprio portador de pedofilia, mas o pânico moral e a “bestificação” do sujeito pedófilo servem para proteger os valores morais da família burguesa.
O perigo do monstro pedófilo é explorado e escandalizado na sociedade e na mídia de maneira tão acentuada que ratifica a necessidade dos valores morais para combatê-lo. Segundo o sociólogo, “uma das maiores ansiedades das famílias burguesas em relação aos filhos é se eles conseguirão, ou não, reproduzir sua posição social familiar e preservar a propriedade privada.”A partir disso, é preciso criar monstros para que sejam interditados, causando sensação de segurança na sociedade burguesa.
O monstro pedófilo é estereotipado na personagem “homem do saco”, sujeito adulto e desconhecido que invade o ambiente familiar para abusar das crianças. O pesquisador diz que não existem dados estatísticos oficiais confiáveis sobre os casos de pedofilia no Brasil, mas há evidências de que a maioria dos agressores são pessoas que possuem acesso direto às crianças e aos seus lares. Os pais, padrastos, vizinhos, professores e padres que cometem atos de pedofilia não são abarcados pela noção de monstro pedófilo nem são combatidos pelos valores morais familiares, justamente por serem membros da família.